Quando a novela O Clone passou pela primeira vez na tv, eu ainda namorava o meu ex, naquela época, ele ainda estava limpo, estava bem. Lembro-me de que a família dele, mudava de canal quando a novela começava, ninguém queria ver na tv o sofrimento que eles tinha sentido na pele anos antes.
Eu também fazia o mesmo, quando ele estava na minha casa, não assistia a novela, por ele, para não fazê-lo lembrar de algo, eu assistia quando estava sozinha e confesso que mesmo vendo na tv eu nunca cheguei a imaginar que ele havia passado por situação semelhante enquanto estava na ativa, anos antes de me conhecer.
Hoje, sentei no sofá e decidi assistir a novela, vale a pena ver de novo, como estou sem trabalhar, tenho um pouco de tempo "sobrando" e aproveitei enquanto lia alguns blogues e liguei a tv.
Foram cenas fortes, primeiro a Mel (Débora Falabela) tendo uma crise fortíssima e seu namorado Xandi (Marcelo Novaes) tentando controlá-la. Eu já vivi uma cena parecida como essa e sei bem a dor que é ver o que uma crise de abstinência faz.
Ainda no capítulo de hoje, a Clarice (Cissa Guimarães) mãe do Nando (Thiago Fragoso) está ao telefone falando com uma amiga, falando justamente como o seu filho está bem, está concentrado, estudando, recuperado e enquanto ela esta ao telefone, mostra a cena dele mexendo com as mãos de uma forma descontrolada, já vi essa cena também, dentro do meu quarto, chega dar aflição de olhar, e então a Clarice ouve um barulho de porta e percebe que seu filho saiu, ELA ESTAVA ENGANADA, ela se enganou e o post de hoje é sobre isso.
Na sequência mostra a amiga perguntando pelo Nando horas depois e a Clarice, deixa visível o processo em que ela passa de codependência, ela diz para a amiga que ele deve ter ido pedir ajuda nos estudos para algum amigo. Aliás, o Xandi também deixa bem claro a sua codependência, quando ele questiona a Mel se ela anda indo na boca, ela joga a sua frustração em cima dele, dizendo que quando eles estão se acertando, ele volta no assunto, que ela não quer mais falar sobre isso e ele então a consola e encerra o assunto.
Era praticamente eu sendo interpretada em uma versão masculina, e como eu, sei que há muitos outros Xandis por aí, dispostos a ajudar a sua Mel ao ponto de ficarem cegos e não perceberem o que é certo ou errado dentro desse contexto de ajuda.
Pode parecer só em novela, mas, não é, é exatamente dessa forma que acontece, normalmente a família demora demais para aceitar e enxergar que a pessoa está adoecida, que as promessas não serão compridas, que eles manipulam, não por uma questão de sobrevivência, de sustentar seus vícios, eles mentem e manipulam.
A verdade é que não é raro acontecer dos familiares não aceitarem que assim como os dependentes, estão adoecidos também, que necessitam de ajuda profissional, no caso das internações por exemplo, normalmente, quem acompanha o dependente são os familiares e são esses mesmos familiares que a princípio adotam uma postura de relutância em aceitar a ajuda dos especialistas das clínicas.
Os mecanismos de negação usados pelos dependentes são quase os mesmo usados pelos familiares.
Somos movidos pelo amor e como meio de defesa quando sentimos que esse amor está sendo ameaçado, é comum fecharmos os olhos para o problema e inventarmos desculpas para cada erro, para cada "mancada" que acontece dentro desse relacionamento.
Até aqui, quem escreveu para vocês foi a Giulliana que já vivenciou tudo isso, que aprendeu com o depoimento de tantas outras pessoas que também passaram por isso, que escreveu um livro justamente para falar sobre isso, abaixo, quem escreverá. é uma Giulliana que entrou nesse longa jornada contra as drogas sem nem se quer diferenciá-las, portanto, uma Giulliana parecida com os familiares de muitos "novos" dependentes.
Não importa se você é esposa de um dependente, namorada, mãe, irmã ou amiga, os sintomas são os mesmos, independente do grau de parentesco, independente do sexo.
Quem conseguiria encarar de frente uma drogadicção de um ente querido logo nos seus primeiros dias após a possível descoberta? Pois é, isso é mérito para poucos.
Partindo do princípio que você conhece o dependente em questão, sabe o quão boa pessoa ele é, muitas vezes, trabalhador, inteligente, amoroso e tudo mais, como do nada você vai entender que ele não é mais aquela pessoa que você pensa que é?
Falamos muito sobre a codependência, sobre não se enganar, não se permitir ser manipulada, mas, a verdade é que não existe uma técnica para isso, quando amamos, temos dificuldades em ver o lado mais obscuro da pessoa amada e isso é normal, faz parte do processo, porém, o importante é saber que o quanto antes despertarem para essa nova realidade, menos doloroso e traumático será, terão oportunidade de aprender sobre a codependência antes de se tornarem um ou uma.
Pensem a respeito, não se culpem e também não desistam!
Boa noite e bom dia de serenidade para todos!
Lembrem-se de participarem da promoção do blog e concorram a um e-book do livro!
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Ai, ai, Giulli, meu esposo e eu também vimos a novela hoje. Os dois em silêncio. Ele deitado em meu colo.
ResponderExcluirComo a co-dependência nos faz sofrer! Posso afirmar com toda a certeza que ela nos destrói muito mais do que a própria adicção do ser amado.
Eu nem sabia o que era isso, até entrar numa sala do NAR-ANON, e descobrir que eu estava muito doente.
E a partir daí fui aprendendo uma nova maneira de viver.
Foi doloroso assistir aquelas cenas. Recordei de algumas insanidades que já cometi, tentando controlar o meu esposo e sua doença.
Graças a Deus, hoje eu também estou em recuperação!
Um beijo, querida!
Maravilhoso texto!
Pois é Poly, quando somos conscientes da nossa "doença" conseguimos identificá-las logo de cara não é mesmo? As cenas de hoje chegaram a me irritar no sentido de que hoje eu sei como é e ver alguém se permitindo ser um codependente me faz lembrar de mim mesma e o pior, a cena de hoje, nada mais é que uma realidade vivida todos os dias, por muitos por aí.
ResponderExcluirBeijos querida! Está de férias né? Que delícia!
Ao ler todo esse texto recordeime de muuuitas coisas que fiz durante o meu namoro, para poder ajudar o meu amor adicto.
ResponderExcluirTambém vejo a novela, e doi muito quando vejo as cenas da Mel, da vontade nao assistir por que sempre que assisto lembro-me dos momentos ruins com o meu amor adicto.
Doi assistir a essas cenas.
P, sei exatamente o que quer dizer, tem cenas que provocam em mim um efeito tão forte que me fazem sentir raiva, porque eu já fiz muito disso também e quando agente já viveu algo assim e vê outra pessoa passando por isso é quando agente realmente perceber que ser codependente muitas vezes retarda o tratamento do adicto, mas, por falta de estrutura, informação e udo mais, isso só é percebido quando a dependência já está bem avançada, é difícil percebermos que estamos sendo codependentes sozinhos, sem uma ajuda...
ResponderExcluirComo na cena de hj, a Mel rouba dinheiro de sua mãe e o Xande tenta consertar e contornar a situação, típico de um codependente...
É um assunto delicado né P? Por isso, tento falar através dos meus exemplos, a importância de ajudarmos o dependente com consciência...
Beijos P, uma boa noite e obrigada pela participação.
Estamos Juntas e juntas somos mais fortes!
Eu assisti essa novela na primeira vez que passou e eu nem imaginava que viveria uma história como aquela... eu ainda não conhecia meu amor adicto! Anos depois passei pelos mesmos dramas e ainda passo.
ResponderExcluirSabem o que é pior? lembrar que muitas vezes, na intenção de ajudar, a gente prejudica a pessoa amada... na intenção de "salvar" a situação, acaba colaborando para que a pessoa demore mais ainda para pedir ajuda!
Hoje em dia, ainda não me sinto em recuperação, apesar de estar lutando comigo mesma o tempo todo e ter me afastado do meu adicto.
Quando vejo noticias sobre drogas e prisões na TV, mudo de canal na hora... me dói profundamente ver que a epidemia do crack está à toda velocidade destruindo lares, famílias, seres humanos que antes eram "boas pessoas"...