Até onde você iria para ajudar alguém que escolheu o caminho errado em busca da tal felicidade? Em um mundo sofrido, perigoso e doloroso, eu senti na pele a dor de ver alguém querido tomar a decisão errada. Eu carreguei a minha própria nuvem de chuva enquanto decidi caminhar ao lado dele. Eu adoeci sem saber, uma doença tão perigosa quanto à dependência química. Eu me tornei uma codependente. E essa é a minha jornada, uma jornada de lágrimas, promessas, sofrimentos e vitórias.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Diário de um usuário de crack
Esse post é para falar novamente de um blog que anda mexendo demais comigo, é o blog http://usuariocraque.wordpress.com/ , quem escreve no blog é o Matheus, conhecido nas ruas da cidade de onde mora, próximo a Porto Alegre por Zé, devido ao fato de um dia ter esquecido o próprio nome. Ele está em sua quarta postagem e fez do blogue uma espécie de diário, onde ele conta como é a vida de um dependente que mora nas ruas.
Posso ser franca com vocês? Se não estão preparados para conhecerem como é a vida de um dependente, se não estão preparados para enxergar que o dependente é um ser humano antes de ser qualquer outro adjetivo que possa ser dado, não entrem no blog, não falo isso por conter textos fortes e chocantes, falo isso por conter palavras que exemplificam a realidade e consequentemente por nos fazer pensar a respeito do que a grande maioria da sociedade ainda não quer ver.
Não vou contar detalhadamente o que ele escreve no post dele, vou apenas pincelar, assim, vocês, meus leitores decidirão se querem ou não saber da história desse rapaz.
Bom, no primeiro post dele, ele se apresenta, diz que é dependente, que usa crack e começa contando um fato que ocorreu no dia anterior a postagem (detalhe, o blog é recente, a primeira postagem foi em 7 de julho), ele conta que um colega de rua havia sido esfaqueado porque estava uma noite fria e esse colega não quis dividir o cobertor com outro colega. "Quando estamos sob o efeito da droga, ficamos sedados, não conseguimos medir nossas consequências". (frase tirada do blog).
Depois de contar a história, ele termina falando que está em uma lan house, ele diz que resolveu escrever porque acha que de certa forma, isso ameniza a fissura.
No segundo post, ele fala novamente o efeito que escrever causa nele e uma frase que me marcou foi uma resposta que ele deu à própria pergunta, quando ele diz que quem está lendo deve estar se perguntando como ele saberia escrever tão bem sendo um usuário de crack e ele responde: NINGUÉM NASCE USUÁRIO!
Ainda nesse post, ele conta um pouco sobre ele, sobre estudos e tudo mais, ele escreve de uma forma consciente do que a droga está fazendo com ele e no momento em que ele fala sobre o frio que passa nas ruas, eu de fato fiquei abalada, mas, logo abaixo ele fala que naquele dia não usou, que preferiu guardar o dinheiro para usar na lan house e eu pensei comigo: - É isso aí Matheus, parabéns!
No próximo post, ele fala novamente sobre o frio e sobre o retorno do colega que havia sido esfaqueado, que bom, ele está bem...
Ele fala novamente que naquele dia não fumou, foi mais um dia que ele decidiu escrever ao invés de fumar, eu aqui, vibrei de alegria, isso foi ontem!
E no post de hoje, dia 13, ele fala sobre a sua infância abro um parênteses aqui, eu nunca fui a favor de usar justificativas para a adicção do meu ex-namorado, ele era filho adotivo, rejeitado pela sua mãe biológica que o tentou matar quando ainda era bebê, depois, sofreu com a separação dos pais adotivos e daí para as drogas fui questão de tempo. Eu nunca falei que ele usuou a primeira vez por causa disso, mas, não sou hipócrita ao ponto de dizer que isso não tenha sido um fator importante que contribuiu e o levou a experimentar a droga pela primeira vez.
Eu fiz questão de falar disso justo agora, porque quem for ler o post do Matheus de hoje, talvez terá o mesmo pensamento que eu, claro, sabemos que tem muita gente que passa por coisas semelhantes e conseguem crescer e até mesmo se tornam pessoas importantes, mesmo após tanto sofrimento.
Sabem o que penso a respeito disso? Há pessoas que diante das dificuldades, conseguem encontrar nelas forças para vencê-las, e há pessoas que não enxergam essa possibilidade e ainda sim, tentam de uma certa forma se encontrarem, mas, infelizmente não conseguem.
O post de hoje, foi o mais doloroso de ler, e além de tudo ele ainda tem um senso de humor incrível, mas, também foi o mais satisfatório de ler, ele hoje disse que pessoas estão ajudando eles, dando cobertor e até tem um lugar que oferecem sopa, isso foi um alívio para mim, fiquei feliz por ele...
Preparo vocês antes de mais nada, caso decidam entrar no blog dele, que ele relata que furta para sustentar seu vício, que fazia isso desde criança, então, não o vejam como um marginal, um criminoso, não esqueçam que ele está adoecido por causas das drogas, que ele não precisa que olhemos para ele com olhos de julgadores ou olhos piedosos, ele precisa que olhemos para ele somente sem vendas nos olhos, que olhemos para ele como ele é na realidade e nada mais.
Se mesmo assim, decidirem conhecer o blog dele, é sinal que estão preparados para fazerem algo a respeito, mesmo que seja apenas em pensamento, desejando e mandando para ele, somente o melhor.
Lembram do post que fiz com o título o Problema é nosso ? Pois é, eu acredito que esse cruel realidade das drogas é um problema nosso sim!!!
Ele normalmente termina os posts dele com alguma frase otimista e reconfortante, do tipo: - Que Deus os proteja, que Deus esteja com todos ou paz para todos e eu hoje termino o meu dizendo:
- Matheus, o meu Deus é o mesmo que o seu e eu sei que ele está te protejendo!
Postado por
GIULLIANA FISCHER FATIGATTI
às
00:08
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Oi, Giulli! Como você sabe, eu particularmente, não consegui ler muita coisa lá. Não por preconceito ou julgamento, de forma nenhuma! Mas porque não suportei a dor de conhecer um pouco desse mundo obscuro em que meu esposo vive, e passa algumas noites, quando opta por não estar aqui com a família, e escolhe a companhia da droga. Senti medo, sabe. Mas, é muito válido o que ele escreve.
ResponderExcluirComo disse anteriormente, que Deus ilumine os caminhos do Matheus!
Oi Poly, quando você disse na outra postagem que não conseguiu ler, eu entendi nesse sentido mesmo, por ser um blog de um adicto ativo, sei que traria recordações não boas para você, aliás, para mim que não tenho mais contato com um dependente já é doído, imagino para você ou para quem ainda vive essa realidade, a minha intençaõ com esse post é a de mostrar para os meus leitores que não têm neunhum contato com um dependente, que apenas lêm o blog por simpatizar com o assunto, que um dependente também é gente, é mostrar como essa realidade é cruel e também porque de fato, eu desejo que Deus ajude esse rapaz, mesmo sem saber a sua história toda.
ResponderExcluirPoly querida, só o fato de você, eu e tantas outras pessoas desejarem que Deus ilumine o caminho dele, já é uma ajuda não é mesmo?
Beijos e não se preocupe, eu entendi os seus motivos lá no outro post...
Oi, gostei do seu artigo comentando o blog recém criado por um usuário de crack. Já fui usuário e este é um mundo em que, independentemente de classe social, todos correm muito risco de vida. Um olhar nú e crú dessa realidade é chocante. Não conheço nada parecido. As drogas mais pesadas não produzem tantas insanidades. É um mundo em que ninguém pode confiar em ninguém. Eu vivi este submundo e sei como é e não me sinto encorajado, no momento, em ler o que o Matheus escreveu. Relatar experiências é terrível. Já me vi, por diversas vezes ao ponto de sofrer sequestro relampago porque estava com cartão de crédito em mãos, bancando a drogadição e os caras estavam planejando me sequestrar. Foram tantos os casos e um deles foi muito doloroso. Por ter dinheiro e este dinheiro ter acabado e pelo fato dos bandidos não acreditarem eles me ameaçaram de morte. Ou eu dava 50 reais a eles, ou eles me matavam. Eu estava louco e o pessoal mais louco que eu, feito urubús em cima da carniça. Minha luta em defesa da minha vida terminou assim. Virei para a turma que tinha um grupo para me executar pronto para agir assim que eu saisse: - Quer saber de uma coisa, seja o que Deus quiser. Não tenho mais nada a falar. Vou embora. Se me matarem este foi o preço por ter me envolvido em um meio que não me pertence. Virei as costas, sai pela porta afora, desci uma escada. Veio um frio na espinha e, sem olhar para lados, dobrei o passeio pelo lado direito e prossegui andando à espera do pior. Apenas rezava o SANTO ANJO DO SENHOR. Cheguei em casa vivo, graças a Deus. Sempre que saia de uma bocada saia rezando para meu anjo da guarda. Eu teria um universo de fatos e histórias para contar, mas são dolorosas e mt tristes para recordar.
ResponderExcluirFiquei feliz com o seu comentário, a sua sinceridade e por dividir um pouquinho da sua trajetória aqui comigo e com o blog.
ResponderExcluirEu te entendo quando diz que ainda não se sente encorajado para ler o blog do Matheus, justamente porque eu, na condição de codependente não sofri o que um dependente sofre e ainda sim, to bem abalada e emocionada com o blog dele, é tão real, a verdade realmente nua e crua como você disse, eu de fato entendo quem não se sente a vontade em ler...
Sabe, meus olhos se encheram de lágrimas quando li que você virou as costas e começou a rezar o SANTO ANJO DO SENHOR - A ORAÇÃO DO ANJO DA GUARDA. Eu particularmente, acredito muito no poder dessa oração, e a rezava muito quando meu ex-namorado sumia para se drogar.
Bom, se um dia quiser falar sobre a sua história, ou fazer algum texto a respeito, mesmo que não seja sobre a sua, me manda por e-mail e posto no blog, sem mencionar seu nome.
Obrigada por participar!!!
Muita luz em seu caminho!