sábado, 25 de junho de 2011

Eu amo mais você do que eu (Rastros deixados)



"Eu amo mais você do que eu"

Estávamos no começo do namoro, dois jovens, cheios de planos e aspirações.
Estávamos passando por uma praça e na rádio da praça estava tocando uma música da banda Catedral, no mesmo momento, ele a cantou para mim, tirando um largo sorriso do meu rosto, um sorriso de alegria.

Penso infinitamente sem parar
A verdade
É transparente no mirar
Da tua retina, minha menina
Me diz
Como não te amar?

Eu amo mais você
Do que eu
Eu amo mais você
Do que eu...

É, eu achei lindo, tanto é que no dia seguinte comprei o cd da banda e passei a ouvir e a gostar de tantas outras músicas dela. A verdade é que não fui capaz de perceber que ali, naquele momento quase que poético, ao dizer que amava mais a mim do que ele, era o indício de que ele tinha problemas mal resolvidos em relação a sua adicção, em relação a sua recuperação.

Quem leu o livro, ou até mesmo quem apenas acompanha o blog, sabe que quando eu o conheci, ele estava limpo há pouco mais de dois anos e eu com meus dezoito anos, mal sabia diferenciar uma droga da outra. Portanto, uma vez que ele disse que não usava mais drogas fazia dois anos, eu dei como assunto encerrado, como se fosse uma doença do tipo Catapora, você se cura dela e nunca mais a terá.

Ele ficou esse tempo todo limpo sem nenhuma ajuda de algum grupo ou irmandade, sem nenhum acompanhamento especializado, quando nos conhecemos, ele frequentava semanalmente uma psicóloga, mas a verdade é que eu nunca soube se ele falava pra ela sobre a sua dependência ou não.

Ele tinha uma vida normal, inclusive, por não ter nenhum acompanhamento especializado em dependência química, nem ele e nem a família, ele saia a noite e bebia uma ou duas latinhas de cerveja normalmente, eu, como namorada, confesso que não via problemas em sairmos e ele tomar uma lata de cerveja, eu não fazia ideia de que lentamente, ele estava chamando as drogas de volta para sua vida.

A grande verdade é que o dependente, mesmo o em recuperação, deixa rastros, dá indícios de que algo está errado, acontece que a nossa falta de entendimento no assunto, não nos permite enxergar tais rastros.

Ele passou a dizer frequentemente que amava mais a mim do que a ele - Esse era um indício, Eu estava em primeiro lugar, Eu vinha antes mesmo do que ele, em sua lista de prioridades. Isso me incomodava um pouco, como eu disse no livro, ele sempre me tratou como uma princesa de ouro em uma redoma de vidro, mas, ainda sim, eu não via nada de grave nisso, mas, acreditem, não é normal e nem saudável você estar em primeiro lugar na lista de um dependente em recuperação.

Como se não bastasse, ele tinha momentos de visíveis crises de baixa auto-estima, e mesmo assim, eu não me dei conta de que ele precisava de ajuda, eu apenas tentava (constantemente) fazê-lo se sentir especial, importante para mim, mas, entendam, para um dependente, cujo o seu estado emocional é mais oscilante do que alguém que nunca experimentou droga alguma, o fato de você como namorada ou sei lá, esposa, tentar fazer com que ele se sinta importante, especial, essencial, não o ajuda em sua recuperação, somente um tratamento especializado pode ajudar nesses casos, pois, é preciso tratar os motivos que o levaram a se sentir dessa forma. 

Eu não estava ajudando ele, estava apenas camuflando algo que eu não tinha conhecimento e nem entendimento.

Ele recaiu, não sei se estou certa, mas, acredito que se ele tivesse tido o devido acompanhamento, se a família também tivesse tido alguma ajuda, isso poderia ter sido evitado, erros cometidos por todos nós os envolvidos e por ele, poderiam ter sidos evitados.

Por isso, eu afirmo que eles deixam os rastros, o problema é que não sabemos identificá-los, a informação é uma grande vantagem na luta contra esse maldito mal.

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4 comentários:

  1. Amamos as músicas do Catedral e do Kim. A "nossa" música é a Entre Eu e Você (Kim). Mas, com certeza, tanto eu como ele estamos aprendendo que é preciso sempre amar mais a si mesmo, para então amar de forma saudável ao companheiro.
    Beijos.

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  2. Depois desse evento, passei a gostar muito da banda, e outras músicas deles passaram a fazer parte da nossa trilha sonora, também gosto da Entre eu e Você, linda demais... Pois é né Poly, são tantas codependentes por aí que não sabem que são, que mantem relacionamentos nada saudáveis, e com isso prejudicam a si mesmas e aos companheiros dependentes.
    Sou categórica ao dizer que a codependência é um assunto que deve ser mais debatido e falado a fim de se evitar atitudes como as minhas...
    Bjos amiga, bom domingo...
    Olha, até amanhã terei informações para te passar sobre o tratamento da Ibogaína...

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  3. Estamos na expectativa, Giulli (Ibogaína). Meu esposo leu muito a respeito também, e está muito interessado. Ninguém respondeu meus e-mails, estou pensando em ligar naquela clínica amanhã.
    Bjão! Pensamento positivo...

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  4. Eu sei como é isso.
    Só que no meu caso, acho que era (sou?!) eu que amo mais a ele que a mim... e eu aprendi no Reiki que sempre temos que estar em primeiro lugar.
    Só por ai já dá pra vcs perceberem o grau da minha doença.
    Ele, por outro lado (certa vez... os únicos 2 meses que fui completamente feliz com ele nesses mais de 6 anos), só sabia me rebaixar mais ainda. Eram críticas, cobranças, pressões, exigências descabidas, intolerância gratuita e mais um monte de coisa...
    Vcs devem estar ai pensando: "Nossa, que mulher idiota!... Ficar com um cara mais de 6 anos e ele ainda a tratava mal!".
    Eu sei... aliás, nem sei como eu aguentava aquilo! Deve ser complexo de mártir... de "ter " que suportar para poder ajudar... não sei.
    Eu não sabia o que era certo fazer ou aguentar para ajudar um DQ.
    E agora ele diz que não vive sem mim... sabem aquela música que toca na novela das 9... tema do Baltazar e da Celeste, que diz assim: "quando a gente fica junto tem briga, se a gente se separa é saudade"... mais ou menos assim. Acho que devia ser esse o nosso tema... rss!
    Bjos,
    Carol F.

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