domingo, 19 de junho de 2011

O conciliador - Mãe pede ajuda para tratar o filho dependente de crack

Faz cerca de uma hora que a reportagem do Fantástico, O Conciliador acabou e eu ainda estou digerindo a mesma, ainda estou sob o efeito de revolta e repulsa que senti ao ver essa reportagem.

Uma mãe, desesperada, lutando contra a dependência do filho há quinze anos, endividada por não conseguir ver o seu filho mais novo se destruir, por não conseguir ver seu filho se matar lentamente dia após dia e por isso se afundou em dívidas com o plano de saúde, no caso a Unimed BH e com a clínica de reabilitação que seu filho esteve internado, ela buscou a ajuda do quadro do programa com a intenção de conseguir a melhor forma de honrar com suas dívidas e continuar com o tratamento do filho.

A Unimed através do seu representante, em nenhum momento demonstrou o mínimo de compreensão perante a situação daquela mãe, mas, se você procurar no You Tube, vídeos com comerciais da Unimed, encontrará vários, com mensagens lindas, inspiradoras, nos fazendo sentir importantes para eles, e quando de fato há uma situação que eles podem pelo menos serem mais "abertos", se mostram uma empresa com "E" maiúsculo, ou seja, onde o importante é o capital, o dinheiro e não venham por favor me dizer que isso é óbvio, porque ela é de fato uma empresa e consequentemente visa o lucro, não sou hipócrita, sei que ela é uma empresa e não uma casa de caridade, por isso não estou indignada por achar que eles poderiam amortizar a dívida daquela mãe, estou indignada pela falta de flexibilidade da parte deles, vista na reportagem, a Unimed simplesmente não estava disposta a ceder em parte alguma, para ela a parte dela estava feita ao conceder o desconto (que por sinal, não foi nada de extraordinário), cem reais mensais para eles, pode não ser nada, mas, para aqueles pais significa auxílio ao seu filho que está ADOECIDO e que lentamente cava a sua própria cova.

Ainda bem que, como tudo na vida, sempre tem algo bom para compensar o ruim, parabéns pela clínica, por PERDOAR a dívida em questão e ainda por oferecer tratamento novamente para o filho daquela senhora, sem nenhuma despesa.

O que motivou a clínica a fazer isso, não importa, se foi "autopromoção", ou de fato "consciência social", isso para quem esta sofrendo com os filhos nas drogas, é o de menos, desde que o tratamento oferecido seja de qualidade e que traga benefícios.

Para arrematar, para me deixar mais indignada, em nota, o Ministério da Saúde explica que o governo não vê a internação como única forma de tratamento para a dependência química. 

Então, para o caso dessa mãe, o que eles sugerem, o que o governo tem a oferecer?

Eu concordo que há outros meios, aqui mesmo no blog, na entrevista que fiz com um D.Q. que hoje está limpo há um bom tempo, ele conta que não precisou de internação para se livrar das drogas, mas, nem sempre é assim que acontece, às vezes, a internação é necessária, às vezes é por causa dele que o dependente se torna consciente da sua doença e se permite ser ajudado, decide se ajudar.

Esse, foi só um caso, mas, há milhares de mães desesperadas, na mesma situação e o que é feito a respeito?

Segue o link da reportagem http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1665267-15605,00-MAE+RECORRE+A+CONCILIACAO+PARA+TRATAR+FILHO+DEPENDENTE+DE+CRACK+HA+NOVE+ANO.html

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7 comentários:

  1. É uma lástima esse descaso da Unimed, não só para com o caso desta mãe desesperada, mas para com tantos outros.
    Eles queriam autorizar apenas 30 dias de internação para meu namorado, sendo que todos sabemos que estes tratamentos não tem prazo certo. Isso porque as mensalidades dele são pagas rigorosamente em dia. O pai dele teve que ameaçar com um processo, de que a Unimed teria que se responsabilizar por qualquer coisa que o acontecesse, uma vez que um adicto na ativa sempre está correndo risco de vida.
    Comente o ocorrido com uma amiga e ela me disse que a Unimed vem "premiando" os médicos que solicitam poucos exames. Dá pra acreditar? Eu fiquei estupefata! Uma conhecida minha teve um exame negado, o qual ela necessitava para realizar uma cirigia de urgencia em virtude de cancer de mama. Um paciente com câncer tem algum "minuto" que seja para esperar por um exame?
    Isso é um absurdo completo.
    Em vez de estarem aí realizando marchar absurdas pela legalização da maconha, deveriam realizar uma para a moralização dos planos de saúde.
    É a primeira vez que comento aqui, e logo um comentário indignado. Desculpe. Mas é como venho me sentindo em relação a essas negligências e pelas quais a gente paga CARO.
    Parabéns pelo blog, que eu sempre leio.
    Beijos!
    Isabelle

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  2. Infelizmente estas tristes realidades ainda perduram. Embora concorde que o tratamento por internação não seja a única forma, vejo-a como prioritária, pois uma coisa que nós, dependentes químicos, perdemos em nossa adicção é a capacidade de decisão. Se eu não tivesse ido a uma comunidade terapêutica posso dizer com segurança que estaria morto. Entendo e me identifico em todos os sentimentos de revolta para com a Unimed que não percebeu o HUMANO, mas o CAPITAL. Uma vida não tem preço.

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  3. Isabelle, seja bem vinda e obrigada. Eu concordo com você e também estou indignada e revoltada, é cruel percebermos que quando mais precisamos, estamos sozinhos, pois, nem contar com o plano de saúde não podemos mais, mas, o que mais me revolta é ver a hipocresia que gira em torno disso tudo, como por exemplo os vídeos lindos e emcionantes que a Unimed faz em seus comerciais, basta procurá-los no you tube, isso é ridículo!
    E também é lamentável a nota do Ministério da Saúde, se "eles" pensam dessa forma, meu Deus, a juda virá de onde então?
    Compartilho com você os mesmos sentimentos de revolta.
    Um grande abraço!

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  4. Jorge, eu penso como você, sabemos que há outros meios mas, sabemos que o adicto não tem mais o poder de decisão, qual é a saída dele? Ir ao CAPS durante o dia e a noite ter uma forte crise de abstinência e voltar a se drogar? Ainda mais nesse cas, que o rapaz já está há 13 anos nesse mundo, como ele vai parar sem um apamro 24h por dia? Sem ajuda dos grupos de apoio?
    E o que a Isabelle falou, quando o convênio permite a internação, dão o prazo máximo de 30 dias, acho que o problema é que embora a dependência seja reconhecida como doença pela OMS, os convênios ainda não vêem dessa forma, não são conscientes de que para se recuperar dessa doença não há prazo...
    É de fato Unimed e capital são duas palavras que combinam perfeitamente...

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  5. Pela LEI Nº 9.656, DE 3 DE JUNHO DE 1998 "prevê o atendimento a portadores de transtornos mentais, inclusive nos casos de intoxicação ou abstinência provocadas por alcoolismo ou outras formas de dependência química." Houve um avanço nesta área. O setor público ainda não está suficientemente preparado para a questão do Crack, não me refiro às drogas de modo geral, mas de modo específico, colocando o crack em evidência. Médicos estão perplexos. Donos de Clínica, de modo geral, pensam em lucrar, o que leva o nascimento e proliferação de "clínicas" que só agravam a saúde de quem precisa de recuperação. A família precisa ser assistida. A questão do crack, sob a ótica do desespero e/ou com enfoques "politico-partidário" não funcionam. A violência, não funciona. Internações involuntárias é como esconder a cabeça do ganso em um buraco e traumatiza. O despreparo é global. Jogar a culpa nisso, ou naquilo não irá resolver nada. O entendimento em relação à rede privada de saúde obedece à lógica capitalista do lucro, então não é de se esperar qualquer ato de "caridade", ou de misericórdia. A lei deve ser aplicada... O que está acontecendo com o crack desespera, gera pânico e a sociedade começa, também, a criar seus próprios fantasmas e, face a impotência coletiva, criou-se o mito de que só internando salva. Isto não é verdade. O primeiro passo das irmandades NA e AA ensinam que é preciso admitir, aceitar e render-se... O trabalho inicial me parece começar assim: primeiro as primeiras coisas. Pegar alguém à força, na marra e jogar em uma clínica não resolve nada. Na hora crítica ninguém faz o ´mea culpa´, ninguém se enxerga vendo um usuário de crack, um alcoólico, ou outros dependentes químicos, mas eles espelham o que somos, é um retrato das famílias, é a sociedade e o pior é que a responsabilidade social é difusa, há uma acomodação, um adiamento de decisões e providências. A impotência é geral e tem jogado muito com o desespero que gera mais violência e desrespeito, sempre em nome da vida. Estão matando em nome da vida e isso parece ser uma grande droga, muito pior que o crack e que brota de mentalidades de quem acha que não depende de nada. Há que se ter uma mudança total no enfoque que se tem dado às drogas. É preciso aprender a desenvolver técnicas humanas, inteligentes, civilizadas, com regras se quisermos solucionar problemas. Pela lógica do capital só a obediência à lei poderá resolver algo. No mais é uma questão, que antes de tudo deve ser olhada com amor, carinho, atenção, dedicação, sem repressão e sem opressão...

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  6. O fato é que, enquanto o crack era visto como droga de periferia, de miseráveis, ninguém se preocupava com a mesma. O quadro mudou. O retrato ficou feio, o quadro que víamos agravou-se. O crack não tem mais uma classe social e virou a "HEROINA" nacional, em matéria de droga. A epidemia pegou todos "de jeito" e são bem poucos os que estão aptos a ter um raciocinio lúcido sobre o tema. Saúde pública merece ser focalizada e é um setor cuja própria saúde é agravada pela rede privada de saúde, que não deseja ter o Estado competindo com suas empresas de saúde, que visam a lucratividade. Ficamos todos vulneráveis. Há um discurso político que não ajuda em nada. Lula não é responsável pelo crack e foi ele quem iniciou o combate a esta droga. UNIMED é uma droga. Estas empresas chamadas de planos, lucram mais do que ajudam... Clínicas particulares também são projetadas dentro da ótica capitalista... Este tema rende e custaria um debate aprofundado. O engraçado é que as matéria excluem o NA e o AA, enquanto as terapias das melhores clínicas são norteadas pelos doze passos das irmandades citadas. Até as matérias jornalisticas, há quem creia serem imparciais, obedecem a lógica do capital. Isso é fruto caracteristico de um sistema adorado e que se chama capitalismo. O que for bom, mas não for rentável e lucrativo, não se sustentará. Se pudessemos não depender da lógica de mercado nossa rede pública seria outra. Este é o maior entrave na luta contra as drogas, pois elas são extremamente lucrativas, o consumo, quanto maior, melhor para o sistema. Há ordem no caos, há uma ordem estabelecida no caos, na desordem, nessa bagunça toda. O tráfico é visto pelos traficantes de morro como uma "FIRMA". Os meninos do tráfico trabalham em uma empresa. O crime se organizou como uma FIRMA, ou uma empresa capitalista. O tráfico poderá até montar clínicas, por que serão rentáveis. As máfias, não aparecem a todo momento em jornais e não há chefão mafioso morando em favela. Os chefões cuidam do modo de produção, da produção, da distribuição e lucro que retiram dai e da indústria bélica...

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  7. Anônimo,
    Eu concordo com você que há um grande desespero em relação ao crack e que as pessoas estão perdidas, sem saber como enfrentá-lo, só descordo em partes em relação as internações compulsórias, não que eue ache a melhor solução, que eu ache que internado contra a vontade o indivíduo vai de um dia para o outro mudar de opinião, mas, seguindo o primeiro passo do N.A. entidade que eu particularmente acho indispensável na recuperação do adicto, como o indivíduo vai reconhecer a sua importência perante ao crack se a própria droga tira dele esse tipo de discernimento, esperar ele perceber que a droga é mais forte não pode ser arriscado e tarde demais? Pelo menos na clínica, há uma chance de que ele sendo "obrigado" a ficar longe das drogas, após a substência sair do seu organismo e ele cair na real, ele pode talvez perceber o seu fundo do poço. (Óbvio, estou falando de um clínica de verdade, não dessas tantas que são mais depósitos de dependentes)
    Qnto ao resto que você explicou aqui, concordo com td..rs é bom ter comentários críticos e e reflexivos em relação a nossa realidade, não sei se você atua na área, mas você parece estar presente no assunto, interagido...
    Obrigada por participar com esses excelentes comentários!!!
    Quando quiser fazer algum texto de algum assunto e quiser que eu o post como postagem, fique a vontade, me mande por e-mail que eu posto, o que vc escreve tem muito valor e contribui para o blog.
    Abraços

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