Os trechos abaixo foram tirados do livro, capítulo 5 - Desespero
...Ele abriu a porta e meus olhos se chocaram com o que estava vendo, ele estava sem camiseta, foi em direção à sua cama e sentou-se de cabeça baixa. Precisei respirar fundo para conseguir dar mais um
passo dentro de seu quarto e fechar a porta atrás de mim, eu estava em choque, seu corpo estava todo cortado, seus braços e pulsos também, aquilo ia além do que eu podia aguentar, não tinha estômago para ver aquilo, mas não tinha escolha, ele precisava de mim e eu tinha que aguentar firme por ele. (Pág. 37)
...Eu o abracei, sem conter as lágrimas que deslizavam pelo meu rosto, eu disse baixinho em seu ouvido que iríamos passar por aquilo juntos, seja lá o que fosse, que ele não ficaria sozinho, eu prometi a ele que estaria do lado dele. Ele retribui o abraço me apertando mais forte contra o seu peito todo marcado, com minha cabeça encostada em seu ombro senti que ele também estava chorando, pois as lágrimas haviam escorrido pelo seu rosto até a direção do pescoço, ele parecia não querer me soltar e eu ficaria ali, encostada nele o quanto fosse necessário. (Pág. 38)
Eu entrei no quarto dele e o que eu vi, me fez querer sair correndo de lá, estava mais do que explícito que "Ele" não estava querendo chamar a atenção, ele estava querendo mesmo se matar, ele falhou na tentativa, porque chegaram a tempo, mas, as marcas em seu corpo mostravam a realidade. Se ele tivesse apenas cortado seu corpo, seria uma espécie de auto-flagelação, mas, havia cortes profundos em seus pulsos, quando entrei no quarto dele, ainda escorria sangue pelos seus braços, alguém que quer apenas chamar a atenção, não corta os pulos, pode cortar o corpo todo, mas os pulsos e a garganta não.
Foi assim que eu o vi, me senti impotente perante àquela situação, ele precisava de mim e eu tinha que me manter firme, mesmo querendo fugir de lá. Eu sabia que sermões ou repreensões não serviria de nada naquele momento. Ele estava adoecido e a tentativa de suicídio era consequência dessa doença. A única coisa que eu queria naquele momento era ter a certeza de que não aconteceria novamente. Eu o abracei e juntos choramos, eu por estar assustada e com medo e ele por estar desesperado.
Tempos depois desse acontecido, vim a aprender que forte depressão, pensamentos suicidas e ate mesmo tentativas de suicídios são comuns no caso da Dependência Química e ao contrário do que muitos pensam, quando ele, o Dependente tenta tirar a própria vida, não é um ato para chamar a atenção ou para que os envolvidos sintam pena dele, é um ato de desespero, é a fuga da própria fuga, levando em consideração que muitos começam a se drogar para "fugir" da sua realidade. Muitos falam que quem quer se matar, não ameaça, se mata de verdade, eu concordo com isso e por ter visto as consequências de uma tentativa frustrada de suicídio, posso afirmar que na grande maioria, naquele momento do ato, mesmo que seja por poucos segundos, o adicto de fato pensou em se matar.
*Pessoas com histórico de abuso de drogas tem 50 vezes mais probabilidade de tentar suicídio dos que nunca usaram. E mais de 40% dos suicidas tem histórico de abuso de alguma droga, seja ela álcool ou alguma outra.
O ato do suicido é a confissão de que o indivíduo foi vencido pela vida, que ele não fora capaz de compreendê-la. Na verdade, a dependência química e o suicídio caminham lado a lado, há uma espécie de fascinação do dependente pelo suicídio.
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Que triste isso, né, Giulli. A dependência química causa dores em todas as áreas mesmo: no corpo, na mente, nos sonhos, na vida.
ResponderExcluirMas, precisamos continuar firmes, não é mesmo?
Grande beijo!
È Poly, e as histórias são sempre parecidas, os dependentes químicos assumem posturas muito parecidas entre eles.
ResponderExcluirMas é o que você disse, quem ainda sfre com isso, precisa se manter firme e seguir em frente.