A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas
só pode ser vivida olhando-se para frente.
(Soren Kierkegaard)
Hoje recebi um e-mail de uma pessoa que há semanas atrás havia me escrito para contar a sua história, essa pessoa estava com medo pois havia descoberto que quem ela amava estava no mundo das drogas. Bom, trocamos vários e-mails e eu tentei expor para ela a importância dela procurar ajuda especializada, e assim ela o fez. Dias depois, ela me escreveu dizendo que tudo parecia estar entrando nos eixos, ele, o seu marido estava se permitindo ser ajudado e ela estava esperançosa.
No e-mail de hoje, senti uma forte tristeza por ela estar passando pelo o que eu já passei. Ele, o marido, ainda não encontrou o seu caminho e nós sabemos que essa jornada muitas vezes pode ser longa e com isso ela está conhecendo um lado dele que ela não conhecia, ele agora a culpa por tudo o que está havendo. (Atitude típica de um adicto, não é um caso particular).
Ela me escreveu contando o que está havendo e me perguntou como eu consegui seguir a minha vida. Pois bem, esse post trata-se disso, SEGUIR EM FRENTE.
Eu não acho que existe um momento certo ou uma regra que faz com que tenhamos certeza de que é o momento de seguirmos em frente, é um momento individual e único de cada um, e comigo não foi diferente.
Eu estava em uma jornada de anulação, de auto sabotagem, de frustrações e decepções. Eu já estava dominada pela codependência e o sentimento de impotência já havia se instalado em minha vida.
Cerca de dez quilos mais magra, sem vontade de me arrumar e nem mesmo pentear o cabelo, com dificuldades em me concentrar na faculdade, na época eu estava no primeiro ano de Psicologia, eu tremia e paralisava toda vez que o telefone da minha casa tocava, podia ser alguma notícia ruim do tipo ele foi preso, ou teve orvedose e enquanto esteve internado o toque do telefone representava a fuga dele da clínica. Esse era o quadro da minha codependência.
Eu simplesmente percebi com o passar do tempo que eu precisava fazer algo por mim, ele estava internado e e a minha doença era tão forte que passei a sofrer até por ele estar internado, porque teoricamente eu não tinha mais preocupações, isso tornava a minha vida sem sentido, eu vivia a dependência dele, eu era dependente dele e ele estando longe, eu me sentia vazia, eu já havia me acostumado com as noites sem dormir, já havia me acostumado a não comer e a não ter mais vida própria.
Não foi de um dia para o outro que minha vida começou a mudar, mas, gradativamente, eu fui voltando à minha vida antiga, com a ajuda de amigos e da minha família, eu fui percebendo que ele precisava seguir sozinho nessa jornada, que eu adoecida, nada poderia ajudá-lo, era eu ou a minha codependência em questão e eu escolhi a mim. Essa foi a minha escolha.
Culpa? Senti por muito tempo, e ainda sinto,foi difícil eu me perdoar por ter escolhido a mim, eu fui egoísta para conseguir me salvar e eu tive que aprender a conviver comigo mesma, com meus medos, minhas fraquezas, meus fantasmas.Hoje, eu sei lidar com tudo isso, hoje eu sei que fiz o que tinha que ser feito, tanto em ajudá-lo quanto em parar de ajudá-lo.
Hoje, sou casada, tenho uma filha e uma relação saudável com meu marido, mas, acreditem, eu luto constantemente contra a minha codependência, ela deixou marcas em minha personalidade que tive que aprender a lidar com elas, eu carreguei comigo o sentimento de que eu tinha sido trocada por drogas e isso tive que trabalhar quando iniciei a relação com meu marido, e é por isso que eu falo que a codependência é como a dependência, não tem cura, porém recuperação.
Eu segui em frente, hoje, sem arrependimentos, para mim, valeu a pena tudo o que eu fiz e vivi.
Eu segui em frente por não ter mais forças, foi um ato de desespero e de vontade de viver, somente isso.
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Querida Giulliana, eu considero o fato de você ter decidido dar outro rumo à sua vida, seguir em frente, um ato de grande coragem. Afinal, é preciso coragem para reconhecer seus limites. E o seu, aparentemente, havia chegado.
ResponderExcluirÉ uma benção a filha e o relacionamento saudável que você tem hoje, uma benção com grande merecimento, pois você resolveu lutar pela sua vida, mudar. E nós só podemos mudar a nós mesmos, não é verdade?
Pelo que conheço de sua história, vejo em você uma guerreira e vencedora!
Grande beijo!
Isabelle
Oi Isabelle, obrigada pelo comentário, vou confessar que antes de eu começar com o blog, ainda estava latente em mim o sentimento de culpa, hoje, acho que lido melhor com isso, a nossa querida Poly me disse uma coisa que me marcou muito, disse que abandonar o barco nem sempre é sinal de fraqueza, de que adiantaria eu me afundar com ele... É verdade né, eu fiz o que tinha que ser feito, mas sabe, não me vejo como uma guerreira, ainda não...
ResponderExcluirVocê também escreveu algo de muita importância, só podemos mudar a nós mesmos né, a codependência muitas vezes não nos deixa ver isso, mas é uma realidade.
Quando comecei a namorar meu marido, você não imagina o quanto eu quis controlá-lo e mudá-lo, traços da minha codependência...
Obrigada pelas palavras, obrigada de verdade, é bom ouvir (ler) de outras pessoas que eu fiz o certo, diminui o peso da culpa...
Beijos, ótima sexta para você!
Muita luz no seu caminho.
Eu consegui pular do barco, mas ainda não consegui abandoná-lo definitivamente e seguir nadando, sem olhar para trás...
ResponderExcluirEstou entre o barco (com meu adicto dentro, olhando para mim e me implorando com os olhos, que eu volte) e a segurança da praia!
Com ele minha vida é um tormento, sem ele não sei ainda o que é viver uma vida própria!
Olho para frente e para o desafio de vir a ser quem sou (e que ainda não sei ser); olho para trás e o vejo lá, sozinho... perdido dentro dele mesmo!
Sei que preciso voltar meus olhos para a praia segura e nadar para ela, mas ainda não consigo sair do meio desse mar tempestuoso...
Nossa Fênix, acho que essas suas palavras disseram tudo...
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