Olá Pessoal,
Estou aproveitando a postagem que fiz sobre a continuação da história do Pedro para contar mais um pouco sobre a minha, é que algumas atitudes que ele tomou e eu descrevi aqui, me fizeram lembrar das minhas, na época em que eu não sabia o que era codependência.
Tudo começou na parte da manhã, quando uma note de R$50,00 reais que minha mãe havia deixado por descuido na mesa da sala, sumiu. Naquela época, ele já estava morando na minha casa, mas, ainda pouco sabíamos a respeito da dependência dele, pouco sabíamos sobre o crack.
Logo que minha mãe deu falta, eu "saquei" o que estava acontecendo, eu tive a certeza dentro de mim que havia sido ele, o rapaz por quem eu havia me apaixonado, o rapaz a quem eu sempre chamava de anjo, e eu travei uma batalha interna dentro de mim para aceitar que aquele anjo fosse capaz de fazer algo do tipo, de fazer isso com quem o estava ajudando.
E então o jogo começou! O Jogo de manipulações, de chantagens emocional, de apelos e tudo mais o que vocês possam imaginas, mas, quem estava jogando esse jogo, era eu e não ele.
Comecei a questionar em voz alta como aquele dinheiro poderia ter sumido, eu tinha esperanças de que ele se comovesse com o fato de estarmos contando com aquela quantia, que seria usada para comprar algumas coisas no mercado, eu não me conformava em vê-lo fingindo que não era com ele, que ele nada sabia a respeito do sumiço. Eu sabia que era ele eu nada podia falar para ele. Será que eu não podia? Por que eu não podia? Não sei as respostas.
Tentei de todas as formas, foi uma tarde inteira de tortura para ambos, porque eu ia me frustrando cada vez mais com o passar das horas e ele se esquivando do assunto.
"Eu já estava começando a me preparar para ir à faculdade, ele estava em meu quarto comigo, parecia inquieto e incomodado,seu olhar raramente se encontrava com o meu, ele estava me evitando, evitando até mesmo falar comigo, ele parecia estar passando mal, suas mãos estavam trêmulas e ele sentia a necessidade de enxugá-las freqüentemente em suas roupas, ele pressionava os seus lábios um contra o outro em uma linha firme e algumas vezes parecia que ia vomitar. Eu não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas sabia que era sério demais para deixá-lo em casa com minha família e ir para a faculdade, então decidi ficar. Tranquei a porta do meu quarto e fechei a janela, ele parecia não ter concordado com minha decisão, mas não estava em condições de relutar, simplesmente deu de ombros e sentou-se na cama, com seus olhos voltados para o chão, perdidos em seu inferno pessoal.
Eu comecei a falar. – Gabriel, o que está acontecendo? Você quer ir ao hospital, você está me deixando assustada!
Por alguns segundos ele apenas me fitou sem pronunciar nenhuma palavra, seus olhos, que um dia pude ver através deles o olhar de um anjo, estavam tão diferentes, eles reluziam uma luz intensa vermelho fogo, por uma fração de segundos cheguei a sentir medo do que vi.
A cada minuto que se passava ele ia ficando mais agitado, se levantou e começou a andar em círculos pelo quarto, eu estava encostada na parede na frente da janela, assustada, não que eu achasse que ele faria algo comigo, isso não havia me passado pela cabeça, mas temia pela saúde dele. Seus lábios haviam mudado de cor, de tanta pressão que ele havia feito, suas mãos pareciam ter vidas próprias, não paravam de se mexer. Após longos minutos de agonia ele quebrou o silencio, sentou-se novamente e colocou suas mãos trêmulas sobre o seu rosto.
– Eu não estou conseguindo, não estou conseguindo me controlar!
Senti uma onde de desespero em sua voz, seu rosto estava pálido, o branco cor de neve havia sumido dando espaço a uma cor triste, sem vida. Ele estava tendo uma crise de abstinência e eu não sabia por quanto tempo ia conseguir mantê-lo a salvo de si mesmo.
Ajoelhei-me no chão em sua frente e segurei suas mãos. – Calma Gabriel, você vai conseguir, você só precisa ser forte.
Ele caiu em um choro profundo e ofegante, como uma criança perdida. – Eu não sei se consigo, é difícil controlar. Me perdoa por fazê-la ver tudo isso. - seus olhos voltaram a ser tão angelicais quanto
ao dia em que os vi pela primeira vez, aquele olhar doce e triste que me mostrava o que estava por vir.
Eu estava chorando com ele, já havia algum tempo que estava sofrendo sem derramar lágrimas, mas aquela noite fora forte demais para que eu conseguisse me controlar, ver o desespero dele lutando fortemente contra suas vontades mais obscuras era dolorido demais para mim. Durante algum tempo ele ainda ficou instável, andando pelo quarto, estalando os dedos, batendo a sua cabeça contra a parede e eu assistindo tudo com meu coração acelerado e minha respiração o seguindo em disparada, vivenciando aquele inferno sem saber o que fazer.
Mais um tempo se passou, não sei dizer o quanto, até que ele foi se acalmando e veio ao me encontro. Ficamos ali abraçados um ao outro, conectados no mesmo pensamento por quase uma hora, eu tentando mantê-lo focado em que conseguiria, embora eu não soubesse como deveria agir em uma situação de crise como aquela e ele se esforçando ao máximo para conseguir.
Aos poucos, fui percebendo que a sua respiração já não estava mais pesada como antes, ele havia parado de tremer e não parecia mais querer vomitar. Fui tomada por uma sensação de alívio e alegria ao mesmo tempo, como se tivéssemos vencido uma batalha. Ele também parecia estar aliviado, seu semblante não estava mais contraído e rígido e ele voltara a ser carinhoso e amoroso, falando coisas bonitas para me acalmar.
Eu já estava mais tranqüila, com a sensação de batalha vencida, saí do quarto para ir ao banheiro e depois à cozinha, não sei por quanto tempo me descuidei, mas foi o tempo suficiente para que quando eu voltasse não o visse mais lá. Novamente meu coração subiu até a boca, quando entrei no quarto e não o vi, eu não poderia pensar em outra explicação, ele havia fugido, rápido como um cometa, esperto como uma raposa.
E esse foi mais um ato da minha codependência, eu deixei de ir à faculdade achando que eu seria mais forte do que a droga, sendo que na verdade, eu só posterguei em algumas horas o que ele já estava disposto a fazer desde de manhã. Sem falar das insanidades de achar que fazendo chantagem emocional ele se arrependeria e devolveria a grana né...
Por isso, eu hoje apoio e incentivo muito meninas como a Gaby, a Jé, que estão aprendendo a lidar com a dependência sem se tornarem codependentes, eu não tive essa sorte, eu precise me tornar para saber o que é.
P.S - Escolhi a imagem do Baby porque ele era mestre em fazer chantagens emocional, assim como eu fiz naquele dia...
kkkkk eu fazia o mesmo Giu.... só depois de muita pancada, de muita dor foi que percebi o quanto eu era dependente dele.
ResponderExcluirConcordo em genero, numero e grau com vc...Se pudermos ajudar o mínino que for, para que os familiares sofram menos acho valido!
É amiga, agente faz cada coisa achando que está ajudando né, no fim só estamos atrapalhando, postergando a oportunidade deles chegarem em seus poços e pedirem ajuda...
ResponderExcluirNossa fiz muito dessas coisas...rs Mas, aprendi, sofrendo mas aprendi...
Beijosss
Muito legal este post, Giulli.
ResponderExcluirNa real, na real, eu tenho como falar dos dois lados deste episódio..quer dizer, não deste episódio especificamente, mas de episódios como estes, pois tanto fui protagonista, como coadjuvante.
Acho interessante que estes aprendizados sejam compartilhados aqui, para que outras famílias possam aprender como enfrentar o problema, sem sofrer tanto e, mais importante ainda, conseguir um resultado desejado e esperado com o familiar dependente, pois nós sabemos que as atitudes tomadas pela emoção não ajudam...ao contrário, atrapalham.
Abração, amiga!
TAMUJUNTU.
Meu amigo sumido...rs Imagino para você qe conflitante que deve ter sido e ainda é, por ter passado pelas as duas situações, dependência e codependência, é td muito louco, e é bem isso mesmo, qndo agente se torna codependente, agente age mto pela emoção, sela ela de raiva, ódio, amor, ou qualquer outro sentimento, aí, agente acha que está fazendo o certo né...
ResponderExcluirEspero que quem ler meu post, consiga enxergar os meus erros para que não os cometa...
Abraços meu amigo!!!
Tamujuntu sim, sempre!
Boas 24 horas pra vc!
Giulli, nessa sua experiência que, com certeza, foi uma de várias, você conseguiu retratar bem o que um co-dependente está disposto a fazer (inutilmente) para "salvar" seu dependente químico amado. É doentio. Anulamos nossas vidas, e nos tornamos obstáculos entre o ser amado e as drogas, mas, isso parece só intensificar suas vontades de "jogar" para conseguirem o que o corpo e a mente pedem. Juro que não gosto nem de me recordar das loucuras feitas (muitas chantagens, muita anulação própria, muito choro desperdiçado, etc) na tentativa de tocar o coração do meu adicto. Mas, quando eles estão na ativa, seus corações parecem endurecidos, se tornam outras pessoas, e nada, absolutamente nada do que façamos, faz alguma diferença, a não ser para nós mesmos.
ResponderExcluirÉ doloroso, mas, é real.
Graças a Deus pelo NAR-ANON na minha vida!
É triste quando a gente sabe que nada disso funciona, não depende de nós e sim deles né!!!Eu agradeço a cada palavra sua, eu aprendo muito com vcs! Beeijão Giu
ResponderExcluirMinha querida florzinha Giulli,
ResponderExcluirMe emocionei com esse texto, e só hoje comecei a lê o seu livro, e estou adorando minha amiga, não preciso nem dizer que já passei por tudo isso, não gosto nem de lembrar das manipulações, das chantagens emocionais, dos xingamentos das brigas constantes, mais como nossa amiga Poly, descreveu e doloroso mais e real, que essas meninas não entre no jogo dessa doença pois ela deixa muitas sequelas.
Juntas somos mais fortes!!!
bjs
....e um dia, fazendo um trabalho familiar na APADEQ (Associação de Pais e Amigos dos Dependentes Químicos), onde minha irmã estava internada,em meio a quase 200 pessoas, a Psicóloga,fala meu nome, pede pra que eu me levante e pergunta: Olá Sandra, vc é irmã de Zenith e vem todas as sextas e sábados aqui.Quando vc chega em casa Sandra, qual a sua maior preocupação? Eu, enchendo o peito de orgulho disse: "Cuido das coisas de Zenith,como casa, contas,etc...
ResponderExcluirEla começou a bater palmas, e todos os que ali estavam.Então ela me disse:
Parabéns Sandra,tudo que você está fazendo, nada mais é que dando mais espaço e tempo para que ela beba mais.Deixe-a sentir o malefício que a bebida trás a ela e a você.Não limpe pra ela, não crie pra ela, não resolva pra ela.Sua vida deve estar cheia de atrasados.Cuide de vc Sandra.E então eu comecei a aprender sobre dependência! rsrsrsr
beijos em seu coração Gil.
Poly, imagino as insanidades... Pelo o que voê ja postou no seu blog, sei que no fundo, somos meio que clonadas, cometemos as mesmas loucuras... Tem uma diferença na forma como enfrentar o problema, a de enfrentar com conhecimento e assim não se tornar uma codependente tipo a nossa amiga Gaby, Jé e P, que estão aprendendo diariamente e a de passar por isso sem nem ao menos perceber a gravidade, que foi o meu caso...
ResponderExcluirBeijos
Jé, saiba que quanto mais você souber a respeito, qno mais ler sobre casos de pessoas que fizeram insanidades em nome da tal doença, mais vc vai estar preparada pra n se tornar uma...
ResponderExcluirQue bom que de uma forma meus post lhe ajudam. Estamos juntas.
Tininha, querida não some desse jeito!!! rs
ResponderExcluirÉ, assim como eu e a Poly, vc tb está lá, no hall das insanidades né, mas, agente aprendeu muito, agente evoluiu né??? Rs o importante é que você reverteu a situação e hoje o só por hoje faz parte da sua vida.
Beijosss e depois que ler me conta o que achou..rs
Sandra,
ResponderExcluirCada vez que vc faz um comentário e compartilha conosco um pouco da sua história, eu me emociono, sem falar que aprendo muito com as suas vivências, essa de hoje então foi de matar, foi para todas nós né? Quem não fez coisa parecida, em pensar em cuidar o adicto de tal forma ao ponto de apenas tornar para eles comodo a situação...
Obrigada por compartilhar.
Adoro quando vejo um comentário seu aqui.
Beijos e um final de semana iluminado!
Muitas e muitas vezes aconteceu exatamente o mesmo comigo.
ResponderExcluirVárias vezes cheguei a dopá-lo para que dormisse... isso quando ele estava disposto a não ir usar, pois quando queria mesmo, ele ia de qualquer forma.
Eu tentava conversar, tentava distraí-lo com alguma coisa, mas nada o demovia da compulsão... e me largava ali, chorando, frustrada, impotente perante a vontade inabalável dele!
Então, eu me dopava e deixava acontecer...
Nossa Fenix, eu choro a cada novo comentário seu... As histórias são tão parecidas...
ResponderExcluirSão mesmo, Giulli!
ResponderExcluirAcho que cada codependente só muda de endereço...
Bjos, minha querida!
Carol F.
Eu passei exatamente pela mesma coisa. Tô até com o coração batendo na garganta, como se a emoção daquele momento voltasse agora mesmo.
ResponderExcluirGiulli,cheguei até seu blog através de uma pesquisa na internet.Procurava pessoas que estivessem passando pela mesma situação que passei. Fui casada por 11 anos com um dependente.Desde o início eu sabia como vc.Minha mãe foi nossa maior aliada nessa luta.Luta essa que eu desisti no final de Junho deste ano.Após mais uma recaída,ele foi embora,sem dizer adeus,só mandou um amigo buscas suas coisas,deixando para trás planos,sonhos,projetos,esposa,sogra e uma filha de 6 anos,que sofre por não ver mais o pai.Hoje,depois de tanto sofrimento eu não sei se valeu a pena.
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