Até onde você iria para ajudar alguém que escolheu o caminho errado em busca da tal felicidade? Em um mundo sofrido, perigoso e doloroso, eu senti na pele a dor de ver alguém querido tomar a decisão errada. Eu carreguei a minha própria nuvem de chuva enquanto decidi caminhar ao lado dele. Eu adoeci sem saber, uma doença tão perigosa quanto à dependência química. Eu me tornei uma codependente. E essa é a minha jornada, uma jornada de lágrimas, promessas, sofrimentos e vitórias.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Internações Compulsória.
Nessa última semana que se passou, muito foi falado nos meios de comunicação, principalmente na internet sobre a posição do Conselho Federal de Psicologia em relação as Internações Compulsórias de crianças e adolescentes que vêem acontecendo, vou postar aqui um trecho da nota e mais abaixo darei a minha opinião a respeito.
Em nota divulgada à imprensa, o conselho defende o tratamento em meio aberto, com equipe multiprofissional disponível no SUS.
A ideia é defendida a partir de uma visão mais aprofundada da problemática da dependência química, levando em consideração a causa do problema, fazendo uma viagem ao passado e buscando respostas para o efeito que vemos hoje, ou seja, eles partem d princípio que o problema está muito antes da iniciação da criança e do jovem nas drogas, está em uma família desestruturada, nos quadros de violência doméstica que se tornaram cada vez mais comum e tantos outros problemas sociais.
"Sabe-se que cotidianamente crianças e adolescentes, no Brasil, são vítimas de violência, não têm seus direitos fundamentais concretizados em políticas públicas efetivas e parece que não estão sendo prioridade absoluta na agenda dos municípios, estados e governo federal."
Ainda na nota, se fala sobre a forma defendida por eles como meio de tratamento e prevenção.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS e CAPS-AD), os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) e os Centros de Referência Especializada em Assistência Social (CREAS), os projetos de redução de danos, a escola, o Programa Estratégia Saúde da Família, enfim, uma rede integrada e com investimento econômico adequado irá propiciar a materialidade das políticas de garantia de convivência familiar e comunitária às crianças e adolescentes. Estas práticas deverão funcionar nos territórios de cidadania, atendendo com a devida atenção prevista nas leis de modo concreto não somente a questão de usuários de crack, mas em todas as frentes de atenção básica e especializada, sempre a partir dos princípios da Reforma Psiquiátrica.
Resumindo, o conselho acredita que o meio que vem sendo utilizado, o de internação compulsória não é o mais viável, que este, viola os direitos da criança e do jovem e por aí vai.
Agora, a minha opinião.
Eu concordo com a internação compulsória a partir do momento que ela seja feita como forma de tratamento e não somente para "retirar" essas crianças e jovens das ruas e "depositarem" as mesmas em uma Comunidade Terapêutica ou Clínica de Recuperação.
Eu acho válido e de extrema importância os CAPS AD e demais centros, mas, não como a única forma de auxílio ao dependente, talvez, hoje, os psicólogos ainda enxerguem a problemática da Dependência química através da teoria e não da prática, porque acredito eu que se conhecessem de fato o dia-a-dia desse mundo, saberiam que esse tipo de "ajuda" é insuficiente para um dependente de crack por exemplo.
O jovem vai para o CAPS, passa o dia lá e eu me pergunto, e a noite, o que acontece com ele? A resposta é uma só, vai para as ruas usar drogas, é comum também o dependente ir ao CAPS AD pedir ajuda e os funcionários se dobrarem e dividirem para conseguir uma vaga para tratar o dependente e muitas vezes não conseguirem no dia, pedindo para que o dependente retorne no outro dia.
Que os profissionais da área me desculpem, já deixei claro aqui a minha paixão pela Psicologia, algo que almejo desde meus 13 anos, mas, eu não posso esquecer que eu vivi na prática o que muitos profissionais só conhecem na teoria, eu vi o meu ex-namorado, aquele que eu chamo de anjo em meu livro, aquele que sempre me tratou como uma princesa de ouro dentro de uma redoma de vidro, me jogar no chão, no meio da rua para poder pegar de mim a minha bolsa, tudo porque ele estava tendo uma crise de abstinência, portanto, de que adiantaria ele ir para o CAPS ou algum outro centro? No caso de crack então, sabemos que é uma roda viva e que ao afastar o dependente do meio em que ele convive, ele se torna mais acessível e aberto para a aceitação de um tratamento.
Completo ainda dizendo que creio eu, que hoje, os grupos de NA conseguem ajudar um dependente com muito mais facilidade do que um profissional que atende em um consultório, porque dentro de uma sala de N.A. eles compartilham suas histórias e vivências, há a identificação.
Enfim, acho que o nosso Sistema atual, ainda não tem condições de resolver o problema somente com acompanhamento de forma aberta, a situação é muito mais grave do que isso, e é preciso conhecer a prática para entendê-la. Quisera eu não ter tanta convicção no que estou escrevendo, quisera eu não ter vivenciado o que vivenciei, se assim fosse, talvez hoje eu concordasse com a nota do Conselho, mas, eu vivenciei, eu saí da teoria e fui para a prática.
Postado por
GIULLIANA FISCHER FATIGATTI
às
00:39
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Internação
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Concordo em muitas duvidas que você levanta. A questão do usuário infantil, seja lá qual for a droga, é grave e só ganhou visibilidade com a penetração do crack em todas as camadas sociais, deixando de ser a droga dos sem remédio, dos enjeitados e excluídos. você fala, com propriedade quando levanta a "tese" de que uma criança assistida durante o dia e fora de casa, à noite, voltará a usar, o que me leva a perguntar sobre que meio social é este em que um usuário de droga se acha inserido e, se não bastasse, qual a "morfologia" da família a que pertence? Veja que iremos esbarrar em uma grave questão de ordem econômica e social ao tentarmos responder tais perguntas. O meio é violento, qual a mentalidade cultural... será que o Estado se mostra presente e atuante? são muitas as perguntas que devemos fazer. A droga é contagiosa e pega todo aquele que se encontra, de uma forma, ou outra, vulnerável. Infelizmente foi preciso o crack, e não a cola,chegar em outras classes para, surgirem políticas governamentais até então inexistentes e o que havia, não como regra e muito menos como exceção modelos de clinicas e hospitais psiquiátricos onde o recuperando entrava com chance de sair bom e, no entanto saia louco. Olhe, o tema é complexo e a proposta do conselho é muito melhor que internações que só escondem o problema sem trata-lo, de modo violento, como vem ocorrendo no Rio. Tais internações só resolvem quando se esgotam todos os recursos e, ainda assim, precisam ser fiscalizadas pelos poderes públicos e pelas famílias, que não é tratada, também. Mas é mentalmente preferível amenizar a dor de qualquer usuário do que alastrar a cota individual de sofrimento que cada ser humano carrega. Nunca tivemos políticas públicas com as dimensões que ora presenciamos. Pela força, contra a vontade, não funciona. O índice de recuperação de viciados em NA, se divulgado, poderia causar um choque. O Conselho se propõe examinar as causa e não as consequência e este é um novo caminho. Pena que o espaço seja pequeno e a complexidade do tema imensa. Estamos indo devagar, mas estamos chegando o que falta é aprimorar e isso só chega com o tempo.
ResponderExcluirOlá querida, você esta conseguindo entrar no meu blog?
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