Até onde você iria para ajudar alguém que escolheu o caminho errado em busca da tal felicidade? Em um mundo sofrido, perigoso e doloroso, eu senti na pele a dor de ver alguém querido tomar a decisão errada. Eu carreguei a minha própria nuvem de chuva enquanto decidi caminhar ao lado dele. Eu adoeci sem saber, uma doença tão perigosa quanto à dependência química. Eu me tornei uma codependente. E essa é a minha jornada, uma jornada de lágrimas, promessas, sofrimentos e vitórias.
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Vagando no deserto!
E foi em um momento de distração minha que ele desapareceu, como uma brisa que passa por nós silenciosamente, ele seguiu rumo ao seu pote de ouro atrás do arco-íris.
As estrelas já haviam alcançado o céu no momento da sua fuga, a lua de prata brilhava em sua majestosa aparição, pendurada entre as estrelas. O ar era quente, a rua estava silenciosa, as luzes das casas ao redor já haviam se apagado, provavelmente todos já tinham ido dormir, era tarde, tarde o suficiente para sentir minha espinha se contorcer quando dei falta dele dentro de casa, tarde o suficiente para sentir o meu estômago congelar com medo de que algo pudesse acontecer com ele durante a sua jornada pelas ruas escuras da cidade em busca daquilo que iria lhe trazer alívio e lhe satisfazer. Era tarde o suficiente para eu saber que nada poderia ser feito a não ser esperar.
E a espera foi longa, cruel, esmagadora. A dúvida, o medo, o desespero me consumiam a cada segundo, a cada volta do ponteiro em meu relógio. A agonia foi a minha companhia durante aquela noite em que meu sono, minha paz, minha tranquilidade haviam me abandonado e eu fiquei a espera de uma notícia dele noite adentro, a espera de um telefone, desejando ouvir mais uma vez o toque horripilante do meu telefone, que me fazia paralisar e estremecer toda vez que soava e que ele não estivesse em casa. A dúvida em relação ao que eu poderia ouvir ao atender o telefone me entorpecia, o medo da notícia ruim, a esperança da notícia boa.
E não precisou mais que dois assombrosos toques para que eu disparasse em direção àquele fazedor de barulhos fantamasgórico e me atirasse para pegá-lo como uma águia em busca de sua comida.
Sua voz tremula, baixa, era quase que inauditível, era como um sopro em uma montanha.
Eu fui para o portão. A lua ainda brilhava no céu, mas, já dava indícios de que logo iria passar o seu posto para o astro-rei Sol, estava amanhecendo. Eu havia passado a noite em claro. Mais uma noite em claro.
Mas, aquilo já não era mais importante, porque do momento em que eu ouvi a sua voz até o momento em que eu o vi chegar, a única coisa que pareceu fazer sentido era que havíamos sobrevivido eu e ele a mais um dia. Ele havia sobrevivido após ter se auto-flagelado com as drogas e eu havia sobrevivido após ter passado por mais uma noite mergulhada em desespero.
A única coisa que importou, foi vê-lo parado no portão, com olhos perdidos, como se estivesse vagado a noite toda pelo deserto.
Postado por
GIULLIANA FISCHER FATIGATTI
às
20:50
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Codependência,
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Querida Giulli, sua narrativa me levou às minhas próprias lembranças de tempos atrás, em que vivi, sem tirar uma só palavra tudo isso e muito mais!
ResponderExcluirE pior: muitas vezes eu tbém ia junto com ele, vagar por esse "deserto" sem oásis e minha únicas companhias eram as estrelas e a lua, do céu limpo da madrugada. Digo que eram as únicas companhias porque ele estava ali do meu lado só de corpo presente, seu "eu"... sua alma, não estavam ali comigo...
Tinha um atalho de estrada de terra, que passávamos, perto da casa dele, onde não havia postes de luz, então eu ainda me lembrava de olhar pro céu e ver "todas" as estrelas do firmamento. Era um bálsamo para minha alma naqueles momentos tortuosos.
Na minha crença espiritualista, Giulli, eu sei que a Terra ainda é um mundo de provas e expiações... como se fosse uma escola. Aqueles que não obtem "nota" suficiente nas provas, são reprovados e terão que "repetir de ano".
Certamente não é a primeira vida em que o seu Anjo Gabriel, o meu amor e tantos outros carregam a tendência para o vício e voltam, vida após vida, para se libertarem... alguns conseguem, mas a maioria fracassa. Terão que voltar e tentar de novo.
O que me consola nisso tudo é saber que o tempo de Deus é diferente do nosso e um século... mil anos, perante a eternidade, são um piscar dos olhos de Deus. Isso não basta para resolver nossas dores do momento, intensas, atrozes... mas cada um tem algo a prender com tudo isso. E acabam aprendendo! Eles... nós... todos!
O que precisamos é "exercitar" nossa serenidade perante as provações, fazer uma "musculação espiritual" para ter forças para atravessar os desertos da vida.
Eu sou uma codependente que ainda não me considero em recuperação e tenho que lutar com Titãs todos os dias para não voltar pra ele, apesar de todo sofrimento que vivi.
O que meu consciente aprendeu e o que minha razão me diz ser o certo, nem sempre é bem aceito pelo meu coração e sofro terrivelmente a ausência do meu amado. Mas sei que nesta vida não há mais chance para nós, embora uma fagulha de esperança nunca se apague dentro de mim!
Fica bem, minha amiga!
SPH - Aprendamos a cultivar a serenidade!
Abraços.
Minha amiga, que comentário mais lindo, você me fez chorar, eu também acredito que o tempo de Deus é diferente do nosso e creio que o Gabriel ainda terá que encontrar a si mesmo ao longo de suas vidas...
ExcluirObrigada por esse texto lindo!
Beijos
Como viver isso é doloroso, né Giulli?! As marcas ficam mesmo. Difícil esquecer... Fico feliz que você tenha encontrado uma nova vida! E acredito sim que se o "anjo" quiser, ele um dia também encontrará uma nova forma de viver, feliz e sem drogas!
ResponderExcluirBeijo no seu coração!
Obrigada minha amiga, é verdade, as lembranças ficam mesmo,só quem vive ou vivei é que consegue entender momentos como esse, de extrema dor e agonia... Graças a Deus hoje estou bem, só por hoje!
ExcluirBeijos
haa o telefone, o celular...rs..lembro que quando estava grávida do meu filho...eu fiquei com tanta raiva..de esperar o celular tocar que atirei ele na parede..e ele se espedaçou...e no momento seguinte me desesperei tentando arruma-lo...pq eu precisava dele...do CELULAR.....nessa hora...desabei no chão corando e pedi...Deus me leva dessa vida, não aguento mais...por favor me leva...depois disso veio um arrependimento tão grande...e uma culpa..pq eu carregava uma vida na barriga...e eu não me sentia no direito de pedir pra Deus levar ele comigo...ai veio a culpa...gente isso é uma tortura emocional tamanha um despespero eu não encontro uma palavra pra resumir tais sentimentos...é horripilante..tudo...causado por uma substância quimica que um dia alguém teve a infeliz idéia de desenvolver...é realmente...só Deus...pra nos confortar...senão a gente enlouquece
ResponderExcluirÉ Kel, momentos como esses são tão horripilantes que fica difícil encontrar palavras para descrevê-los como realmente são.
ExcluirBons momentos minha amiga.
Beijos