segunda-feira, 30 de maio de 2011

Cap. I - Cont. pág. 13/14

Conforme ele foi falando, parecia que eu estava ouvindo as badaladas do sino da Catedral da Sé bem dentro de meus tímpanos, fui ficando atordoada, sem entender como era possível tudo aquilo ter acontecido
com ele e ele estar bem, ali, ao meu lado, era como se a história queele estava contando não era sobre ele e sim sobre um garoto qualquer, um personagem de um livro. Com o passar dos minutos, o barulho dos
sinos foi diminuindo e tudo foi ficando mais claro, era por isso que ele não estava estudando, ele havia largado os estudos na época da dependência e não havia voltado mais; as peças do gigantesco quebracabeça
foram se encaixando, todas as quartas-feiras, eu sabia que ele tinha compromisso, mas nunca eu havia perguntado o que ele fazia, naquele dia, ele me disse que o seu compromisso, era com a psicóloga,
ele ia toda semana, na verdade, ele não sabia se estava fazendo algum efeito o tratamento, mas que ele se sentia bem ao ir.
Nós estávamos caminhando pelo shopping e eu ainda estava estarrecida com o pouco do que ele me dissera, ele disse que ainda não tinha contado tudo, com um singelo sorriso nos lábios, disse que era
para não me assustar.
- Fique à vontade para dizer o que quiser e quando quiser. - murmurei baixinho.
-Obrigada. - agradeceu ele, sorrindo novamente.
Saímos do shopping e fomos comer um cachorro quente em uma barraquinha de lanches, como se nada tivesse acontecido.
Fiz um esforço tremendo para não pensar mais naquilo durante o resto da noite ao lado dele, mas, quando já estava em casa, deitada em minha cama, flashes do que ele havia me dito vinham à minha mente
como se fossem bolinhas de sabão pairando sobre o ar, sem fazer nenhum sentido, nada parecia fazer sentido naquele momento, fui me lembrando com mais clareza os detalhes do que ele havia me contado
e que na hora eu havia deixado escapar por estar atônita demais. As noites em que passou na rua, dormindo em qualquer lugar, o desespero para comprar e sustentar o seu vício, sua mãe implorando por várias
vezes para que ele parasse, implorando para que ele não levasse mais nada de casa. Por alguns segundos, pude sentir um milésimo da dor que a família dele havia sentido durante anos, uma dor sufocante, o ar
vai acabando e você tenta desesperadamente respirar, você tenta se livrar daquela sensação de que não tem mais jeito, de que não tem mais solução. E eu adormeci com aquele sentimento em mim...

4 comentários:

  1. Muito legal...
    Tem muita coisa boa pra ler aqui.. rsss

    bjusss

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  2. Sandrinha, obrigada, seja bem vinda! Entre e fique a vontade...rs
    Bjus

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  3. Oi,"Anonimo" Se não quiser falar por aqui, pode me mandar um e-mail.
    Fico no aguardo.
    Muita Luz no seu caminho!

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