A edição desse mês da Revista Marie Claire, traz uma reportagem interessante com o tema "Drogas. Internar à força é a solução?"
Na reportagem, é contada a história de duas mães e de como elas lutaram contra a dependência dos filhos.
"Elas descrevem o momento em que, com medo de perdê-los para sempre, decidiram interná-los contra a vontade em clínicas de recuperação. Polêmico, o tratamento voltou a ser discutido com o crescimento do crack no país. Os relatos delas e as opiniões dos especialistas ajudam a pensar sobre a necessidade e a eficácia dessa terapia " (Fonte Marie Claire -
Por Maria Laura Neves e Tânia Nogueira )“É muito duro o momento em que você reconhece que precisa internar seu filho em uma clínica de drogados porque não consegue mais resolver o problema dele sozinha. Resolvi fazer isso quando descobri que o Daniel*, 28 anos, estava fumando crack, aos 21. Sabia que ele usava maconha e tentei afastá-lo do baseado de diversas maneiras: terapia, conversas, chantagem emocional. Tentei ser carinhosa e dar todo amor. Como não deu certo, passei a ignorá-lo, desprezá-lo. Nada adiantou. Quando descobri que ele estava no crack me senti derrotada, incapaz e impotente. Só me restava interná-lo contra a própria vontade. Eu sabia que esse ato era uma violência, mas não queria vê-lo sofrer mais. Fiquei com medo de que ele me odiasse para sempre. Aliás, ouvi dele as piores coisas no dia em que foi para a clínica: que era péssima mãe e me detestava . Eu realmente sentia que o tinha traído, ainda que fosse para o bem dele. Não me arrependo. Em sete anos, ele foi internado quatro vezes. Cada vez serviu para ele se conhecer um pouquinho melhor. O Daniel tem uma doença sem cura, mas que tem remédio e pode ser controlada. Vou interná-lo quantas vezes for preciso.” O relato acima é da empresária paulistana Joana*, 55 anos, que luta contra a dependência química do filho há 13. Mostra a dificuldade, os medos e as aflições que as mães e os familiares encontram na hora de internar os filhos à força em clínicas de desintoxicação. Essa é uma decisão dolorida e nem sempre necessária ou acertada — muitas vezes tomada em momentos de desespero e exaustão. Autorizada por lei no Brasil, a internação involuntária voltou ao foco do debate sobre drogas por causa da crescente epidemia de crack que tomou o país — 600 mil usuários segundo estimativas do Ministério da Saúde, presentes em todas as classes sociais e em 98% das cidades, de acordo com um estudo da Confederação Nacional dos Municípios. O crack costuma devastar mais rapidamente a vida dos seus dependentes do que as outras drogas. Atinge de forma fulminante o sistema circulatório dos usuários, além de destruir valores e relações sociais. Chega ao cérebro sete segundos depois de tragado. O barato, potente, dura cerca de 20 minutos e, quando acaba, deixa a fissura por outra pedra. “É a droga fatal para quem tem tendência ao vício”, diz o psiquiatra Pablo Roig, diretor da clínica de recuperação Greenwood, em São Paulo. Discute-se, portanto, se a solução deve ser tão radical quanto o mal que o crack provoca.
Daniel sempre foi uma criança agitada. “Na escola, falavam em hiperatividade”, diz a mãe. Aos 11 anos, começou a fazer terapia. Aos 12, fumou o primeiro baseado. Joana descobriu que o filho usava maconha quando ele tinha 15. “Fiquei desesperada. Os profissionais falavam: ‘Maconha é leve. Não vicia’. Mas eu tinha medo, com razão.” Joana mudou de bairro para afastá-lo das companhias. Mas Daniel acabou conhecendo a cocaína. Aos 21, experimentou crack . Joana percebeu a mudança no comportamento do filho. “Ele não saía mais do quarto, não participava das festas em casa, me pedia dinheiro o tempo todo. Pressionei e briguei até ele assumir. Entrei em pânico.”
A primeira internação durou 15 dias. Daniel voltou a fumar crack semanas depois da alta. A partir daí, a família o levou à força outras três vezes para clínicas de recuperação. “Sempre tomei as decisões sozinha. Meu marido, pai do Daniel, me apoiava, mas não participava tanto. Ele viaja muito a negócios”, afirma Joana. “Na segunda vez, decidi me internar junto com o Daniel. Queria que ele tivesse todo o conforto de casa e também ia poder cuidar dele de perto. Achei uma clínica caríssima que aceitou minha ideia. Passava o tempo todo ao lado dele, conversando. Participava das terapias, das atividades em grupo.” Mãe e filho dormiram no mesmo quarto. Ambos tomaram calmantes no dia em que chegaram. Ela por conta do stress, ele como parte do tratamento.
Joana passou seis meses internada ao lado do filho. “Só voltava para casa nos finais de semana. Achava que a culpa de tudo aquilo era minha. Ficar lá presa com ele era um jeito de aliviar esse sentimento. Deixei de cuidar da minha aparência, do corpo. Vivia para ele. Na clínica, aprendi que ele tem uma doença, que vai acompanhá-lo para o resto da vida.” Algumas semanas depois da alta, ela percebeu que o filho não estava recuperado. “Ele voltou a me pedir dinheiro, sempre com a desculpa de comprar um tênis, uma roupa. Pedia para eu confiar nele, o deixar sair. Desconfiei. Durante uma briga, ele assumiu que estava no crack novamente. Disse, até mesmo, que tinha fumado na clínica onde ficamos juntos, enquanto eu dormia. Naquele momento me senti derrotada, acabada. Foi quando percebi que não adianta apenas eu querer ver ele livre da droga. Ele também precisava querer. A internação, no entanto, é uma maneira de protegê-lo dele mesmo. É internar para não morrer.” Daniel está limpo há dois meses. Toma um estabilizador de humor, um ansiolítico, faz dois tipos de terapia, uma focada na dependência química e outra mais ampla. “É uma luta dificílima. Mas desistir significa esperar a notícia de que ele apareceu morto.”
Os especialistas em dependência química se dividem na discussão sobre a eficácia e a natureza ética da internação involuntária. Uma corrente mais tradicional da psiquiatria, encabeçada pelas clínicas de reabilitação, defende a ideia de que o usuário é impotente perante o vício e jamais vai buscar ajuda sozinho. “Muitas vezes o paciente não quer ir. Em abstinência, se dá conta de que precisa colaborar”, diz Cláudia Oliveira, diretora terapêutica da Clínica Viva, no interior de São Paulo. “A droga age sobre o sistema de recompensa do cérebro. Dessa forma, o indivíduo acaba se tornando dependente da sensação de prazer e deixa de tomar decisões racionais por conta desse mecanismo. Sem a droga no corpo, o sistema nervoso volta a funcionar saudavelmente. É por isso que o isolamento e a desintoxicação são importantes”, diz o psiquiatra Roig, da clínica Greenwood.
A outra corrente de médicos diz que a internação involuntária deve ser uma exceção aplicada somente quando nenhum outro tratamento traz resultados. “A maioria dos usuários, por mais rebeldes que sejam, tem consciência do que está fazendo e simplesmente não tem o desejo de parar. O paciente precisa querer não usar mais drogas, senão vira um sistema carcerário. A maioria das internações involuntárias não dá certo”, afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, fundador do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo. Essa corrente propõe que medicações associadas à terapia especializada em dependência química pode trazer mais resultados do que a internação involuntária. Outra alternativa seria substituir o uso de drogas pesadas, como o crack, por mais leves, como a maconha, para aqueles que não conseguem abandonar a dependência. É o que os médicos chamam de redução de danos. As duas correntes, no entanto, concordam que a internação involuntária pode ser aplicada nos casos em que a droga desencadeia surtos psicóticos no dependente, a ponto de ameaçar a vida de quem está ao redor.
*Os nomes citados são fictícios.
Vou comentar pois notei algumas colocações que me levaram a pensar no quanto erra uma pessoa desesperada e desejosa em ver seu familiar livre das drogas. É, realmente um drama terrível. Mas as pessoas não podem perder o equilíbrio e o que mais acontece é falta de equilíbrio, quando mais se precisa dele. A mãe que depõe comete, no meu entendimento, tantos erros (perdoáveis). Vejamos alguns:
ResponderExcluir"uma clínica de drogados" - essa expressão reflete o poder dos estigmas, além de preconceito; "chantagem emocional" parece-me um recurso desonesto, uma manobra burra, insensata; "Tentei ser carinhosa e dar todo amor. Como não deu certo, passei a ignorá-lo, desprezá-lo"... ela "tentou ser" ela não foi, porque não era nada do que tentou ser, foi mera figurante teatral. Depois revela inabilidade e torna-se "má", "distanciada"... Não tem sustentação emocional, ela gosta do "faz de conta", como se na vida fosse possível sobreviver blefando, como em um jogo de cartas.Ela apostou na vida do filho e acabou perdendo, porque ela, em si mesmo, era um blefe; "Eu realmente sentia que o tinha traído", enfim, é ré confessa. Ela retrata que é disfuncional e precisa de socorro, urgentemente, do contrário, na loucura codependente dela, vai acabar com a vida do filho. Sabe, existe um "start" é só dar a chance certa no momento certo. A recuperação nasce dentro da alma da pessoa que usa. Basicamente é isso. No mais, pessoas precisam de pessoas e o cara vai precisar de apoio e amor verdadeiro, nada de "tentar ser" o que não é. Que mulher louca!
A escrevente diz "internar os filhos à força em clínicas de desintoxicação", possivelmente vai coloca-lo em uma clínica que vai maltrata-lo e o cara vai sentir mais raiva, ainda. Um cego nunca pode guiar outro cego.
Há uma indagação inteligente sobre as internações involuntárias: a solução deve ser tão radical quanto o mal que o crack provoca"?
Sinceramente, o radicalismo não leva a nada. Eu gostaria de entender melhor a codependencia. Esse relato, desta pobre criatura, reflete uma doença e, outra coisa, eu fui descobrir a palavra adicção e o que era adicto depois da minha internação. Eu ouvia falarem as duas palavras, mas ficava com vergonha de perguntar. Depois me contaram que era uma doença "progressiva incurável e fatal", dai perdi a vergonha e perguntei ao terapeuta, assim meio às escondidas pra ninguém perceber minha ignorância sobre o assunto. As codependentes não falam coisas assim como bater no marido, dar solavancos... Eu me sentia tão consciente de que estava errando que me permitia deixar a mulher me bater, lascar minhas roupas, isso na rua. Eram cenas muito loucas e eu só pedia a ela paciência e quanto mais pedia mas ela ficava brava. Eu chamava ela de "mamãe" e, quando eu chegava em casa de mansinho, ia perguntando: - vai bater em mim, mamãe? Acho que ela caiu na real, depois recaiu na irrealidade. É uma espoleta que pipoca com a maior facilidade. Quando eu chegava com a "onda" baixa e ela estava dormindo eu ia bolinando ela e, ai, ela não reclamava. Só depois que eu acordasse é que ela iria reclamar. Pelo menos isso eu aprendi, mas dois loucos juntos é, como se diz na gíria: barril!
Que Deus ajude estas criaturas que convivem com esta doença. Eu me trato e ela não se trata. Agora que eu me consertei eu espero que ela encontre a paz (ela insiste em dizer que eu tirei a paz que ela tinha, na verdade, ela tentava aparentar que tinha e ai cai no mesmo terreno da dondoca que "tentava ser" e não era.
Anônimo, suas colocações são de fato bem estruturadas, visto que trata-se de um assunto polêmico e que não pode jamais ser generalizado.
ResponderExcluirFalando primeiramente sobre o equilíbrio que você menciona, concordo plenamente, porém, a primeira coisa que o codependente perde ao saber da adicção do seu marido, namorado ou filho, é o equilíbrio, embora o codependente não faça uso de substância alguma que o tire da realidade, ele é de certa forma acometido por insanidades tais como o adicto, o medo, o desespero, o sentimento de fracasso e tudo mais, os levam a surtarem e com isso piorarem a situação que já é calamitosa.
Eu, particularmente não acho que seja viável a internação á força, não como meio de fuga do problema, eu acho necessário em questões onde o dependente corre risco de morte por exemplo, no alto de sua adicção, ele não tem condição de decidir sobre a sua vida e uma "intervenção" pode dar a ele o tempo que ele precise, mas, desde que, seja uma clínica de verdade, pois, o que acontece hoje é que vemos muiitas clínicas fajutas, sem nenhum programa de tratamento a ser seguido e tudo mais.
Falando novamente do codependente, eu como tal, posso te afirmar que somos de fato muitos responsáveis pela a melhora ou piora do adicto, e no caso de uma relação entre mãe e filho, o peso dessa relação, antes mesmo da adicção do filho, recaí consideravelmente sobre os atos do adicto, o que quero dizer que acredito que grandes motivos que levam o adicto a se drogarem está enraizado na família.
Obrigada por participar e dar a sua opinião, que foi muito bem escrita e acredito que o codependente precisa de tratamento tanto quanto o dependente.
Descobrir a duas semanas que meu namorado usa drogas eu não sei o que fazer, não sei como chegar com ele pra conversar não sei se deixo ele ou não. ME AJUDA
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