quarta-feira, 30 de março de 2011

Internação à Força - Parte 2

O caso abaixo, que é o segundo caso da reportagem da revista Marie Clarie do mês de março, já foi citado aqui no blog, mas, acho que vale a pena postar a reportagem.

Há dois anos, o caso da gaúcha Flávia Hahn, 62, chocou o Brasil: ao tentar se defender do filho Tobias, então com 24 e em surto psicótico, acabou disparando um revólver contra ele. Ele também era dependente de crack. Filho único, Tobias foi diagnosticado com hiperatividade aos 4 anos, quando começou a tomar remédios e fazer terapia. Largou o tratamento na adolescência, por causa das drogas. Fumou maconha pela primeira vez aos 14. Cheirou cocaína aos 17, quando passou a roubar e assaltar para sustentar o vício. Aos 21, foi para o crack. Para pagar o vício, vendeu uma moto, presente da mãe, e as próprias roupas. Quando o armário ficou vazio, vendeu os casacos de pele e sapatos da mãe. Depois foram as roupas de cama, os tapetes, a bateria do carro, o estepe e a chave de roda. Nos surtos de agressividade, Tobias dava socos em Flávia e no pai, Manfred Hahn, 78 anos. Batia no rosto. Queria dinheiro. Na última briga, Tobias perseguiu Flávia com uma faca. Foi quando ela pegou um revólver da coleção do marido. Mirou para o alto, na tentativa de amedrontar o filho e fazê-lo desistir da ideia de ameaçá-la. Tobias morreu aos 24 anos de idade. O tiro atingiu seu pescoço.
Tobias foi internado oito vezes à força em quatro anos. “Meu filho estava magro demais na primeira vez que o internei. Não comia, mal dormia. Eu e meu marido tomamos essa decisão porque estávamos preocupados com a saúde dele”, diz Flávia. Ele costumava ser carregado por enfermeiros em uma ambulância até a clínica. Às vezes, os médicos vinham acompanhados de policiais com um mandado judicial expedido a pedido de Flávia. No momento da captura, Tobias lutava. Até que lhe aplicavam injeções com calmantes, o que o deixava lento e fraco. O tratamento dentro de clínicas e hospitais durava no máximo 30 dias. Três meses depois de voltar para casa, em média, recaía. Voltava a fumar 30 pedras de crack por dia. A Justiça absolveu Flávia da morte do filho — ela alegou legítima defesa. Hoje, ela mora com o marido na mesma casa onde viveram com Tobias, no bairro Tristeza, em Porto Alegre. “É como se ele estivesse aqui. Ainda ouço sua voz pela casa. Tobias me chamava muito para pedir dinheiro. O tempo todo...” Flávia está aposentada e ajuda outros jovens — inclusive a ex-namorada de Tobias — a se livrar do crack. “É uma ilusão acreditar que o usuário pode se livrar sozinho do vício, sem a desintoxicação. Só o amor não basta.”

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