Até onde você iria para ajudar alguém que escolheu o caminho errado em busca da tal felicidade? Em um mundo sofrido, perigoso e doloroso, eu senti na pele a dor de ver alguém querido tomar a decisão errada. Eu carreguei a minha própria nuvem de chuva enquanto decidi caminhar ao lado dele. Eu adoeci sem saber, uma doença tão perigosa quanto à dependência química. Eu me tornei uma codependente. E essa é a minha jornada, uma jornada de lágrimas, promessas, sofrimentos e vitórias.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Dia triste!
Entra ano e sai ano e toda vez que o Natal se aproxima, isso acontece, mesmo após anos, mesmo após ter conseguido me recuperar da minha codependência, ainda há algo que é mais forte do que a minha recuperação. São as lembranças que essa época me traz.
Hoje eu já não fujo mais dessas lembranças, hoje, elas não me assustam mais, mas, mesmo assim, é inevitável, elas se fazem presente em minha vida e sempre farão.
A realidade é que sempre achei a data do Natal um dia triste, nostálgico, desde pequena, não que eu não goste ou não curta a data, a magia que envolve a data, eu gosto sim, mas me sinto normalmente triste quando vai se aproximando do dia.
Foi no Natal de 2002, fazia menos de uma semana que eu o havia confrontado na meio da rua, perguntando se ele estava usando drogas, fazia menos de uma semana que eu aprendi que o SILÊNCIO também é resposta, porque foi esse silêncio que me fez ter a certeza de que meu então namorado estava trilhando uma estrada quase que sem volta.
Naquela noite, ele iria passar o Natal na minha casa, eu estava ansiosa esperando pela a sua chegada, eu já estava começando a sentir a dor de estar ao lado de um dependente químico, a dor de ver os ponteiros do relógio se arrastarem lentamente e praticamente não saírem do lugar, a dor de não saber se a tão esperada hora iria chegar de fato.
Chovia bastante, e aquela chuva tornou tudo mais triste e doloroso, lentamente as horas se arrastaram, minhas mãos, que já estavam cansadas de tanto discar no telefone o número do celular dele, já estavam tremendo de tanto pavor também.
Na tv, o som do Feliz Natal ecoava em minha mente, me esforcei para desejar para a minha família um feliz Natal, enquanto buscava desculpas para justificar a ausência dele. Quando então o telefone tocou, meus olhos não conseguiram segurar as lágrimas, aquela foi a primeira vez de várias que senti medo ao ouvir o telefone tocar. Foram mais de cinco horas de agonia, de dor e angústia, de medo, pavor e desespero, eu quis xingá-lo, mas, apenas pedi que ele fosse para a minha casa, eu precisava vê-lo mesmo depois de ouvi-lo dizer que havia passado a noite em um beco, usando droga, tudo o que eu mais queria era acalmar o meu coração que sangrava de tanta dor.
Esperei por ele... E ele chegou...
"Entramos em casa, ele cumprimentou minha família, ficamos um pouco na sala, sentados no sofá, ele quase não pronunciou palavra alguma, pálido, quieto, não conseguia me olhar nos olhos, ou não queria, porque sabia que meus olhos estavam ardendo em fogo enquanto eu o estudava minuciosamente, depois do alívio de vê-lo bem, fui tomada por um sentimento obscuro, senti ódio dele, senti raiva, dele e de mim, queria desesperadamente entender o porquê, ele havia estragado a minha noite de Natal, a nossa noite de Natal e parecia não estar se importando com isso! Enquanto eu o fitava, busquei nele algum indício de que o Gabriel que eu havia conhecido ainda existia, por trás daquele outro que eu não sabia quem era.
- Onde você estava? - perguntei em voz baixa - Quero que me diga a verdade, só isso. Eu quero te ajudar.
- Jú... - ele estava relutante e tive que me controlar para não fazê-lo recuar com o meu desespero, eu precisava saber. - Eu não consegui, eu tentei, mas não consegui. Eu estava sentado, no meio do mato, em um
terreno baldio. Quando te liguei ainda estava lá, o efeito já havia passado, estava chovendo e eu não sabia o que fazer. Para ser sincero, não pretendia vir mesmo, estou envergonhado por decepcioná-la.
Minha garganta ficou seca, senti-la queimar, posso sentir novamente como se estivesse acontecendo agora nesse exato momento. A respiração dele estava ofegante, quase pude ver o movimento de seu coração bater enquanto ele falava, seus olhos estavam marejados de lágrimas e a única coisa que pude pensar é que ele ainda gostava de mim, pois havia pensado em mim logo depois que passou o efeito da droga. Essa foi à primeira vez, dentre várias em que me submeti a ser colocada em segundo plano, em que aceitei ficar atrás das drogas na lista das prioridades dele.
Nos abraçamos, choramos, começaram as promessas."
E desde então, por mais que eu queira não lembrar, todos os anos, nessa época eu revivo internamente essa data, mesmo não querendo "curtir" essa dor, tudo porque há feridas que não se fecham e não se curam jamais...
"...E eu me lembro de você assim, em dias de chuva, em dias de sol"
Postado por
GIULLIANA FISCHER FATIGATTI
às
22:31
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Codependência,
Valeu a pena
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Pode crê, amiga!
ResponderExcluirMe identifico pra ¨#($#@&(¨*& nesse seu post.
Valeu!!
Que este Natal possa ter um "TOM" diferente em sua vida!
Abração e TAMUJUNTU.
Oi. Estou vendo seu blog agora pela primeira vez e gostei bastante da forma como você descreveu o que aconteceu e o que sentiu. Lerei os outros posts e tentarei acompanhar sempre que possível o que você posta por aqui :)
ResponderExcluirAbraço
Oi querida....que trajetória né....Nao é facil passar por essas coisas, dói na alma...beijos em seu coraçao !
ResponderExcluirEu tbém não esqueço... Mais de 6 anos guardam muitas lembranças!
ResponderExcluirO estranho é que por mais pessoas que fazem o relato, sempre há aquele ponto em comum de todos os codependentes.
Acho que foram no máximo uns 2 natais que ele passou sóbrio enquanto estávamos juntos... ano novo, acho que foi só 1.
Hoje acordei as 4h da manhã e não consegui mais dormir... minha noites tem sido de pesadelos constantes em que ele está sempre recaíndo...
Hoje estou mais triste do que o "normal" dos meus dias, nos últimos anos...
Bjos a vcs e estamos juntos! Sempre!
Carol F.
Aii como doi lembrar... Eu já passei por isso no natal também Giulli... Foi assim mesmo! Foi dessa forma. A diferença é que, quando eu perguntei onde ele estava mais uma vez ele mentiu pra mim... Outra diferença é que ao terminar a nossa conversa eu ainda estava chateada.
ResponderExcluirQuando não se esquece de algumas feridas que os adictos na ativa nos deixam, fica difícil tentar não lembrar, pois são lembranças que nos perturbam... Mas mesmo assim Giulli tente não lembrar... Agora você está em paz, com uma família que eu acredito que seja linda! Com um esposo, filhos... A única coisa a se fazer agora é rezar bastante por ele e pedir a Deus que um dia ele consiga se recuperar (se ele ainda estiver usando).
Bjus. Fica bem nesta data viu.
Por favor, tenta.
É Giu não é facil, cada pessoa com um seu fardo, sua dor.. é mais tenho certeza que Deus sempre nos mostra algo através de alguma experiencia, e que toda experiencia vivida só devemos tirar proveito dela par que não se repita para evitar machucar e ferir novamente, não irei mentir que algumas vezes quero saber dele e ir ve-lo mais evito pensar e ir atras, pois se eu quero me recuperar e ficar bem como posso viver de recaidas... mais realmente é como vc sempre diz ao ler sempre nos deparamos.. Giu nestes ultimos dias graças a Deus nem tenho chorado igual antes.. a dor vem de vez em qdo mais também tento evitar ela....Bom infelizmente ele esta no caminho das drogas ou seja ele continua na mesma... e eu continuo a orar para que ele encontre seu caminho! Pensei bem evito fazer o mal para ele e para mim.. em ir atras dele.. fiz igual a parabola da vaquinha sabe né... Giu obrigada por tudo ando sumida ainda não iniciei o blog, mais acredito no momento certo e das certas palavras.. quando envolve outras pessoas devemos saber como escrevar e descrever essa historia... que sirva de exemplo como seu blog serve para todos aqueles que visitam e leem.. grandes beijos e tenha um otimo natal e feliz 2012!!!! Elaine Giraldi Bueno
ResponderExcluirMeu amigo Adicto em recuperação, mais uma vez, obrigada pela a sua presença...
ResponderExcluirJ.A fique a vontade para entrar em meu mundo, no fundo, quem passa ou passou por isso, tem uma historia muito parecida, por isso nos identificamos tanto umas com as outras... Beijos
Emily, é você tb sabe a dor que é né, como isso nos destrói não é mesmo? Mas, eu encontrei meu fundo do poço e de lá saí... Beijos
Carol, minha querida, estou preocupada com você, você está em uma roda viva de repetições de lágrimas... Vamos buscar a sua recuperação e buscar a sua vontade de viver novamente... Fica bem...Beijos e estou aqui sempre que precisar.
P minha querida e amada, temos muitas lembranças né, mas está certa, hoje tenho uma família linda graças a Deus, assim como vc, que tem um lindo futuro pela frente ao lado do seu amor em recuperação, depende de vc tb hein...Beijos,obrigada por td estamos juntas...
Elaine, você anda sumida mesmo, mas tenho te acompanhado pelo face, vi que mesmo na dor, está começando a tocar sua vida, a fazer o que gostava de fazer, estou feliz por você, mas triste por ele, acompanhei um pouco da sua agonia para interná-lo e td o que houve depois, você merece ter paz nesse final de ano...Beijos, me escreva quando der...
Nesse natal não estamos mais sós Giu....
ResponderExcluirTamu junto garota!!! Sinta meu abraço forte quando o natal chegar por aí e vc involuntariamente olhar para a estrela amarela no topo da arvore cheia de bolas, sinta meu abraço forte! Só por hoje... nossa corrente nao me deixa mais sozinha a uns bons natais... à meia noite desse dia, quando as pessoas começam a se abraçar, eu me afasto, olha aquela estrelinha amarela ou seja lá o que estiver no topo da arvore, e me abraço, segundos só eu comigo mesma, abraço cada um de vcs que me ajudam a permanecer de pé pelos outros 364 dias do ano! E sussurro no ouvido de cada dos meus amigos... Te amo companheiro...feliz natal! ;)