Até onde você iria para ajudar alguém que escolheu o caminho errado em busca da tal felicidade? Em um mundo sofrido, perigoso e doloroso, eu senti na pele a dor de ver alguém querido tomar a decisão errada. Eu carreguei a minha própria nuvem de chuva enquanto decidi caminhar ao lado dele. Eu adoeci sem saber, uma doença tão perigosa quanto à dependência química. Eu me tornei uma codependente. E essa é a minha jornada, uma jornada de lágrimas, promessas, sofrimentos e vitórias.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Conte a sua história - Amiga dos Animais!
ANGÚSTIAS DE UMA CODEPENDENTE
A minha história começa em 1997, quando me apaixonei por um traficante e dependente químico, casado!
Mantive um longo relacionamento ilícito com ele, até que ele acabou sendo preso. Como ele era casado, nosso relacionamento acabou, pois a esposa era quem o visitava na cadeia.
Um ano e meio depois, ele ainda estava preso e acabei me envolvendo com outro dependente quimico, ex-traficante e ex-presidiário... havia cumprido uma pena de quase cinco anos! A única diferença era que esse não era casado. Eu já o conhecia desde a infância, mas passamos
muito tempo sem nos ver, pois ele se mudou com a mãe e o padrasto pra longe da minha casa e nossas vidas tomaram rumos diversos.
Quando nos reencontramos aos 26 anos de idade, ele já possuia as marcas indeléveis de uma longa temporada na prisão... na "escola do crime" e, como nossa sociedade é extremamente segregacionista e preconceituosa, ele não conseguia emprego algum!
Foi ai que o ócio e a mente perturbada de quem acabara de sair da prisão, mais os "amigos", o levaram a experimentar o crack. Foi então que o inferno dele começou!
Sem dinheiro para manter o, até então apenas uso, da droga, ele começou a traficar pequenas quantidades de drogas para se manter!
Além do mais, como dependente que já era, da maconha, ele "precisava" do dinheiro que um emprego (e uma vida) digno não lhe pôde dar!
Ocasionalmente, principalmente nos fins de semana, durante as noitadas ele usava também o álcool e a cocaína.
Até neste ponto, ele ainda estava com outra mulher, e como as teias do destino o trouxeram para morar do lado da minha casa outra vez,
eu sabia de tudo isso pela mãe dele, até então amiga de minha mãe, e através da minha prima, casada com um tio dele.
Quando ele acabou se separando de vez da outra namorada, com quem tem uma filha, eu decidi que queria ficar com ele...
Foi ai que o meu inferno começou!
Perdi a conta das noites mal dormidas... noites em claro, vagando pelas ruas da cidade, nas "bocas de pedra" e nas "biqueiras", como chamam.
Muitas vezes ele carregava os eletrodomésticos da casa da mãe, enquanto ela dormia...
Quantas vezes vi ele pegar os produtos da despensa, caixas de leite, sacos de arroz, macarrão, o próprio colchão onde dormia... e, junto comigo, na maioria das vezes, subindo e descendo o morro nas madrugadas geladas, em busca da droga maldita!
Em algumas ocasiões, chegou a praticar e tentar praticar pequenos furtos, e num desentendimento com um traficante uma certa noite, ficou
na mira de um revólver! Cheguei a interceder e fiquei entre ele e o traficante armado! Felizmente não aconteceu o pior...
Quando eu não estava junto, estava em casa morrendo de preocupação e desespero, que nunca se mostravam em vão, pois ele sempre se metia
em alguma confusão, principalmente quando se juntava com outros usuários, inclusive um primo dele...
Certa vez, ele e o primo, se meteram em uma briga de bar e os dois foram parar no hospital. O primo com um ferimento à faca no rosto, e ele com a cabeça atingida por um tijolo, sangrava...
Ele, assim como eu, gosta de animais. Entretanto a criação dele, ao contrário da minha é para fins comerciais... pois foi onde muito me doeu!!
Vi ele acabar com as criações muitas e muitas vezes... galinhas, franguinhos, filhotes de cães...
Um dia ele ameaçou arrancar o pescoço de uma garnizé na minha frente, se eu não desse dez reais (o preço de uma pedra de crack) pra ele.
Minha irmã acabou dando, vendo o desespero em que eu me encontrava e não tinha o dinheiro pra dar a ele...
Minha família sofreu e chorou lágrimas de sangue comigo... e ao ver o que eu sofria, dia após dia!!
Quantas madrugadas tirei meu pai da cama pra me buscar no meio de ruas desertas e sombrias!
E ele ia, junto com minha mãe...
Estamos juntos há mais de 6 anos e ele chegou a ser internado, por causa do crack, umas 8 ou 9 vezes... nem lembro direito!
No início de nossa relação ele ainda amava a outra mulher, que o abandonou quando ele fora preso e voltou quando ele saiu...
Eu pensava que fazendo ele esquecer da outra e se apaixonando por mim, ele abandonaria as drogas! Ledo engano...
Ele é usuário de maconha desde os 14 anos.
Ao longo do tempo foi se tornando dependente de cocaina, "amesclado" e, depois que saiu da prisão, do crack propriamente dito! Hoje ele e eu temos 33 anos.
Eu não fazia idéia do martírio que viveria... Além das drogas, do temperamento irascível e genioso, ele chegou a me trair descaradamente com a outra, muitas vezes! Como antes éramos vizinhos de muro, ele não tinha como esconder as traições e nem se dava ao trabalho de irem
pra outro lugar... Ela o "usava" quando queria... e eu o perdoava... e ele me "tolerava"... Gostava da outra, mas não a queria mais por companheira, já que ela o maltratava muito emocionalmente, inclusive o traindo! Então, me "deixava" ficar do lado dele...
Com o coração sangrando, eu o perdoava, mas não esquecia!
Com o passar do tempo ele esqueceu a outra, se apaixonou por mim, mas estava cada vez mais e mais dependente do crack, que acabava usando junto com a maconha, a cocaina, o álcool e tranquilizantes.
Quando saíamos nos finais de semana, eu parecia um "estranho no ninho", pois eu não usava drogas, nem álcool e nem tinha assunto com os "amigos" dele que estavam junto.
Começaram as internações quando a mãe viu que ele estava acabando com tudo dentro de casa!
Eu mais vivia lá do que na minha própria casa...
Esta última internação durou apenas dois meses, já que a Prefeitura de nossa cidade "não pôde" pagar e nem eu, nem a mãe dele temos condições pra isso.
Depois que ele chegou ainda não o vi. Ainda não tive coragem de tentar viver novamente ao lado de uma "bomba-relógio", mas só Deus sabe o quanto tenho sofrido e chorado a saudade dele... Não sei o que fazer!!
Ele diz que está me esperando... e isso me destrói mais ainda por dentro!
Primeiro foram internações voluntárias, onde ele nunca conseguia ficar até o término dos tratamentos. Depois, a mãe começou a interná-lo involuntariamente (como das 3 últimas vezes), mas, sabe-se lá porquê, ela mesma interrompia o tratamento dele, tirando-o das
clínicas.
Juntando-se ai os obstáculos da Prefeitura... os tratamentos nunca deram em nada. Mas, uma vez, depois de 43 dias internado, ele chegou a ficar nove meses limpo e frequentando os Narcóticos Anônimos!
Chego a me perguntar por quê ele voltou à "ativa", já que conhece os 12 passos de N.A., sabe o que deve fazer e o que deve evitar para ficar limpo, mas não o fez... um dia ele me disse que uns "tirinhos" de vez em quando ele vai dar mesmo! Fiquei decepcionada e sem esperanças de que ele realmente queira a recuperação um dia!
É preciso que eu diga que ele foi criado por uma mãe solteira, abandonada ainda na gravidez, e que depois do nascimento dele, ela o deixava aos cuidados da avó, que por sua vez, vivia com outro filho traficante. A figura masculina que ele cresceu tendo por referência foi este tio traficante, que hoje se encontra desencarnado, por desavenças com outros traficantes. Quando ele já era um pouco mais velho a mãe se juntou com um homem e o levou para morar com eles... o padrasto e ele se adoravam, mas infelizmente o alcoolismo o levou cedo demais!
Quando mais crescido, já quase adolescente, a mãe arrumou um namorado e o colocava pra fora de casa pra namorar porque o tal namorado "não se sentia à vontade com ele em casa". Muitas vezes ele disse que a avó o encontrava dormindo na porta de casa. A mãe engravidou de
novo, e foi novamente abandonada! O irmão, que também cresceu sem a presença paterna e hoje está com 17 anos, está indo pelo mesmo caminho do irmão mais velho... mas ainda não é um dependente, visto que ainda consegue esconder o uso.
O que me atormenta nisso tudo é que estou por demais exausta e com minha estrutura emocional e mental completamente transtornadas... tenho a humildade e a vergonha de me assumir uma desequilibrada!
Fiquei dependente de calmantes e antidepressivos e não durmo mais sem remédios!
A ociosidade em que estou vivendo ainda contribui mais ainda para minha condição desesperada e desesperadora diante da minha situação!!
Minha única "janela para o mundo" é este computador e, só posso dizer que não estou uma completa inútil por causa do meu ativismo virtual pela causa animal.
Por outro lado, certos comportamentos e atitudes dele para comigo, até quando passa longos períodos "limpo", me confundem e me machucam.
Ele diz que me ama, mas só consegue ver defeitos em mim e me critica por tudo e por nada!
Me agride, sem nenhum motivo lógico, com palavras ferinas que ele sabe que vão me machucar... chegou certo dia a dizer que não me suportava!Parece que ele só me aceita "incondicionalmente" quando está na ativa...
Mas, quando me afasto e me separo dele, ele diz que não vive sem mim!
Não consigo compreendê-lo!
Não consigo compreender a mim também...
Ao mesmo tempo, por mais que eu sofra ao lado dele, sempre acabo voltando pra ele. A codependencia "roubou" minha vida própria. Passei
anos vivendo a vida dele e só agora comecei a tentar entender essa doenças e tentar me modificar, mas parece que me esqueci como é que se vive a própria vida. Mas, quanto mais eu reflito, mais duvidas eu tenho sobre se devo voltar pra ele ou não...
Nosso amor mais parece um vício, uma codependencia mutua... um "precisar" do outro!
Sinto muita culpa por pensar que ele pode estar sofrendo por minha ausência... Sinto pena, por toda a história de vida dele... mas também penso que preciso me preocupar mais comigo.
A única coisa que tem me confortado são os meus livros e os meus animais...
Não sei o que fazer da minha vida... "com" a minha vida...
Só consigo vislumbrar uma noite terrivelmente escura à minha frente!
Grito por socorro, mas só ouço o mais atordoante silêncio...
Postado por
GIULLIANA FISCHER FATIGATTI
às
23:11
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Conte a Sua História
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irei orar por vc
ResponderExcluirNao gostei mto da sua ressalva que a mae dele era mae solteira....
Sou mae solteira e crio muitoooo bem minhas filhas :)
Adri, eu entendo!
ResponderExcluirExistem mães e mães solteiras!
No caso dela, alem de desequilibrada, era uma irresponsável e relegava sempre o filho a segundo plano.
Muitas vezes a avó dele o encontrava dormindo na porta de casa, porque o namoradoda mãe não ficava à vontade com ele em casa...
No seu caso, com certeza é bem diferente disso!
Obrigada por opinar e por orar por mim!
Bjos, Carol F.
Ah! Esqueci de dizer... adoro seu blog!
ResponderExcluirBjos.
Carol
ResponderExcluireu fico triste com esses rotulos sabe.. por umas vadias assim que maes solteiras sao maus vistas.
Eu acho realmente que o cuidado que a mae tem na infancia com as crianças é que vai determinar TODA sua vida adulta...exatamente por isso que decidi denovo largar do oscar.. preciso que minhas filhas sejam pessoas seguras, que saibam que sao amadas.
A maioria dos adictos que vemos por ai, tiveram uma infancia conturbada né ?
Olha Carol tb vou orar por voce
ResponderExcluirA nossa Codependencia é um praticamente um barco furado, mas é o barco que temos, portanto vamos ter que continuamente tentar tapar o buraco e ficar removendo a agua pra não afundarmos.
O grande problema é, vc ser um barco furado e pra se salvar tentar pular em um que ja esta afundando que é o seu amor.
Ele precisa afundar sozinho pra abandonar de vez esse barco da vida dele.
Tb sou mãe solteira, e nem ligo se rotulam ou não, faço de tudo pra fazer a minha parte, não ligo.
Mas tb abandonei meu Adcto por conta de meu filho. não quero que ele se acostume a ver, ouvir e sentir sobre a droga dentro de casa.
Tente sentir a paz, e essa é de dentro pra fora, portanto vai ter que procura-la dentro de voce, não no seu adicto.
Um grande abraço
Carol, pq excluiu seu blog ?
ResponderExcluirNao precis mais gritar companheira!!!!
ResponderExcluirPor um longo tempo nós estávamos aqui te esperando! Pode parecer absurdo, mas se vc vasculhar os blogs do pessoal aqui, saberá que é a mais pura verdade... Nós estavamos gritando também do outro lado... mas era o seu ouvido que não ouvia! Seja bem vinda amiga... Aqui pode ter certeza de que te amamos de uma forma muito especial!
Te amo Garota! Bons momentos, Cicie
Meninas, legal os comentários, acho que assim ajudamos umas as outras...
ResponderExcluirCicie, falou tudo!!!
Beijos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAmigas, não exclui meu blog... não imagino o que possa ter acontecido com ele!!!
ResponderExcluirTive, inclusive que criar outro perfil no Google!
Mas vou criar outro, não se preocupem!
Olha, respondendo aos comentários, o fato não é ser mãe solteira, casada, casal gay ou que seja... acho que quem se dispõe a criar um filho tem se responsabilizar por isso, não acaham?
Não justifica falar: "ah! foi um acidente!"... "eu não queria!", etc...
Se colocamos filhos no mundo, temos que zelar bem por eles! O que, infelizmente não foi o caso da minha ex-sogra...
Estou com vcs, amigas!!
SÓ POR HOJE!
Bjos a Todas... e logo terão meu novo blog!!
Carol
Oi querida ! Imagino como deve ser essa dor que vc sente, uma vez que um dependente entra na vida da gente...é complicado, mas pelo que vi essa relaçao te fez muito mal, tente ser forte, peça forças ao Altissimo Deus pra restaurar sua vida, colar os pedacinhos que lhe foram destruidos e sarar sua feridas, pois Deus esta acima dos vicios das drogas ! Estarei colocando vc em minhas oraçaoes, sei que Deus pode fazer coisas lindas na sua vida ! beijos e conte comigo !
ResponderExcluirObrigada, querida Emily!
ResponderExcluirTenho que lutar uma luta da titãs todos os dias para me mater forte em minha decisão.
Dói demais, mas estou firme!
Cansei de sofrer...
Estamos Juntas!
Bjos a todas!