"...Ele quase não pronunciou palavra alguma, pálido, quieto, não conseguia me olhar nos olhos, ou não queria, porque sabia que meus olhos estavam ardendo em fogo enquanto eu o estudava minuciosamente. Depois do alívio de vê-lo bem, fui tomada por um sentimento obscuro, senti ódio dele, senti raiva, dele e de mim, queria desesperadamente entender o porquê. Ele havia estragado a minha noite de Natal, a nossa noite de Natal e parecia não estar se importando com isso!"
(Trecho do livro Valeu a Pena - A Jornada de uma Codependente )
E essa foi acho que a primeira vez que senti raiva dele, foi quando, cerca de uma semana após eu ter descoberto a recaída dele, após longos 3 anos, e na noite de Natal ele se presenteou com o seu objeto de desejo, necessidade e por que não, obsessaõ? Foi uma longa noite de espera, uma longa e torturante noite de espera, a primeira vez de fato que eu sabia o real motivo do seu desaparecimento, que eu sabia que a droga havia se tornado então, o seu bem mais precioso.
A única coisa que eu não sabia era como lidar com esse novo sentimento que passei a sentir. A Raiva.
Eu não sabia que senti-la fazia parte do processo e que trabalhá-la era a minha mais nova obrigação.
Houve momentos em que tive vontade de arremessá-lo em um penhasco e me jogar em seguida para salvá-lo, momentos em que tive vontade de atirar nele e me jogar na frente para não acertá-lo. Amor e raiva, dois sentimentos totalmente confusos e perdidos dentro de mim.
E estar ao lado de um dependente químico é exatamente isso, essa confusão de sentimentos, essa montanha-russa de emoções.
E quantas outras vezes não vim a sentir essa mesma sensação sem ainda entender que ela fazia parte do "pacote ajudando um dependente químico"? Eu sentia raiva dele cada vez que desaparecia e embora esse sentimento fosse neutralizado pela alegria de vê-lo vivo cada vez que ele retornava, ainda sim ele estava dentro de mim e eu não sabia como trabalhá-lo.
Sentir raiva não é um sentimento nobre, e eu não me permitia senti-lo, então comecei a trocá-lo por um sentimento muito pior, a Culpa. Toda e cada vez que ele sumia, que eu me sentia trocada pela droga, cada vez que ele agia como se não se importasse mais comigo e com meus sentimentos, eu passei a não mais sentir raiva dele por me fazer sofrer, eu passei a me culpar por não ser boa o bastante para fazê-lo parar, passei a me culpar por não ser o suficiente para ele ao ponto de tirar dele a vontade da droga.
Acredite, sentir raiva pode ser destruidor, mais, sentir culpa é apavorantemente pior. A raiva pode e precisa ser trabalhada, senti-la às vezes é necessário, para que possamos colocar para fora o que dentro de nós não pode mais ficar, mas, sentir culpa, é assumir a responsabilidade de algo que não temos controle algum e isso é capaz de nos matar lentamente.
O meu conselho?
Permita-se sentir raiva e depois disso, trabalhe-a! Se você não senti-la, não poderá substituí-la. Sinta a raiva que o momento exige e depois troque-a pela serenidade que você precisa!
Esse é o meu conselho, não fugir dos sentimentos e o mais importante, não trocá-los por sentimentos mais destrutivos ainda, como a culpa.
Boas 24 horas para nós.
Serenidade!
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CONCORDO CONTIGO GIU...a culpa nos imobiliza..é um sentimendo que vai tirando nossa vida...a raiva se bem trabalhada...pode ser vir de trampulim...rs...bjus
ResponderExcluirGostei da comparação Kel, a raiva se bem trabalhada pode servir de trampolim!!! Perfeito!!!
ExcluirBjus
Concordo com vc Giu, toda a minha vida fui uma pessoa "stressada", a raiva vinha, passava por mim e eu despejava ela em alguém, quando a dependencia quimica passou pela minha vida, através do meu familiar eu pude experimentar o ódio, e sinceramente isso foi uma das coisas que me levou a pedir ajuda para mim. Para mim o ódio é um dos sentimentos mais perigosos, eu nunca senti algo tão forte e tão escuro como o ódio, hoje procuro estar sempre atenta pra quando a raiva aparece eu possa imediatamente trabalhá-la, não para que ela suma, mas para que não vire ódio, busco, como vc falou, senti-la primeiro, e depois trabalho esse sentimento para entender o quê, nos eventos externos ainda me afetam...
ResponderExcluirEstar em recuperação não é "ser feliz para sempre!"
É isso mesmo minha amiga, não somos perfeitas e estar em recuperação não significa que superamos todos os sentimentos e passamos a ser alienadas a eles, somos pessoas buscando nas dificuldades encontrar a serenidade, somente isso e sabemos que isso não nos dá felicidade eterna né, por isso nos preocupamos com o nosso hoje, só por hoje!
ExcluirTMJ
Amo você!
Beijos
É verdade, viver ao lado de um adicto é uma montanha-russa de emoções.
ResponderExcluirEsse foi mais um bom conselho seu, amiga: sinta a raiva! É verdade quando diz que devemos nos deiar sentir raiva para que possamos então trabalhar em cima dela.
Só quando nos permitimos sentir, poderemos nos permitir também trabalhar os sentimentos.
Boas 24 horas para nós, só por hoje!
Beijão
É isso mesmo amiga, juro que pensei que muita gente ia estranhar o meu conselho, mas percebo que não, que ele foi compreendido como é de verdade, sentir para superar né...
ResponderExcluirBeijos
NOssa, lendo esta postagem me passou um filme na mente, de quando eu era apenas CO DEP. VOcê colocou tudo de uma forma muita exata, os sentimentos aparecem nesta ordem mesmo, poré o pior deles é a culpa, se ela encontra abrigo na alma ela joga a auto estima morro abaixo. Acho que você soube lidar com a situação muito bem.
ExcluirParabéns pela sua força e capacidade de percepção.
Nem sempre escrevo mas estou sempre por aqui.Adoro sua forma de escrever.
Tamujuntas.
Oi minha amiga guerreira, obrigada por estar por aqui, eu tb nem sempre comento no seu, mas estou lá, a cada nova postagem!!!
ExcluirTMJ
Beijos